"Macacologia na Zoologia"
Há mais de 30 anos a trabalhar no Instituto de Zoologia da Universidade da Hamburgo, o cabo-verdiano Nelson Mascarenhas desafia e recria a zoologia em dezenas de criações fotográficas.
Zoologia desconstruída
Há mais de 30 anos a trabalhar no Instituto de Zoologia da Universidade da Hamburgo, o cabo-verdiano Nelson Mascarenhas lida diariamente com ossadas de animais. Do trabalho surgiram novas ideias e construções retratadas em fotografia. Inspirado no crioulo, "Macacologia na Zoologia" é o nome da sua primeira exposição.
Nelson Batcha
Na ilha cabo-verdiana de São Vicente, onde nasceu, todos o conhecem pelo apelido Batcha. Foi aí que começou a interessar-se por fotografia, principalmente a partir dos 16 anos. Aos 20, emigrou para trabalhar como marinheiro num navio holandês. Mas foi mais tarde no Instituto de Zoologia de Hamburgo que combinou duas paixões, os animais e a fotografia.
Às vezes as ideias surgem de repente...
Diz o fotógrafo apontando para esta imagem que tem como título "Pensando". É uma fotografia aparentemente simples, explica, um foco de luz incidindo sobre o crânio de um elefante na sua posição normal, mas sem a tromba, as orelhas e os marfins que tradicionalmente o identificam. Apesar da simplicidade, muitas vezes os visitantes não conseguem identificar o animal ao primeiro olhar.
De passatempo a obra de arte
Quando começou a fotografar os esqueletos e outros restos dos animais, Nelson Batcha fê-lo por passatempo, uma forma de recriar o seu dia a dia e de voltar à antiga paixão da fotografia. Nesta sua primeira exposição, o autor exibe mais de 40 trabalhos que reuniu entre 2009 e 2014.
"Batalion"
Durante as horas de trabalho, surgem novas ideias de possíveis construções que Nelson Batcha gosta de anotar. Volta depois aos fins de semana ao gabinete para as pôr em prática. É nas horas livres que Batcha dá asas à imaginação: constrói e desconstrói, desafiando a zoologia. Neste "Batalion", o autor simula a figura de um morcego utilizando as omoplatas e uma vértebra atlas de um leão.
Experiência de vôo
Depois de tirar as fotografias, o fotógrafo cabo-verdiano edita-as no computador para tratar sobretudo a cor, explica. Mas por vezes Nelson Batcha pouco usa as ferramentas informáticas, como acontece nesta "Experiência de vôo". Aqui o autor montou o crânio de um papa-formigas com o tórax e as cervicais de uma lontra brasileira e terminou com as asas de um ganso.
Versatilidade
Nelson Batcha gosta de trabalhar com este tipo de crânio de babuíno, espécie que se encontra em países como o Egito e a Etiópia. Pela cor acastanhada, sinal de restos de gordura, este é o crânio de um animal velho que, por si só, tem uma expressão própria, observa o fotógrafo. Sobre o crânio, Batcha colocou as escamas de um pangolim, finalizando com os espinhos de um porco-espinho.
Mamíferos
Na maior parte dos trabalhos, Nelson Batcha recorreu a ossadas de mamíferos, pois é nesse departamento do Instituto de Zoologia de Hamburgo que trabalha. Nesta "Fantasia de babuíno" utilizou além do crânio deste animal, as escamas de um pangolim e o chifre de um antílope. No entanto, noutros trabalhos, as asas de ganso, o búzio e um rabo de peixe fazem a exceção à regra dos mamíferos.
Memórias de Cabo Verde
É difícil escolher a sua preferida entre dezenas de fotografias, mas Nelson Batcha tem um carinho especial pelo "Fundo do mar" (em cima à direita). Esta fotografia - em que Batcha usa a boca de um tubarão, unida ao crânio de um gorila e as escamas de um pangolim - traz de volta as memórias de Cabo Verde, onde praticava natação e pesca submarina.
Voltar a Cabo Verde
Depois da sua primeira exposição fotográfica, Nelson Batcha não esconde o desejo de um dia poder voltar ao seu Cabo Verde para mostrar o seu trabalho. Após vários anos a fotografar, Batcha está determinado em exibir uma paixão que, até há pouco tempo, guardava para si - tendo já criado o seu site pessoal: www.nelsonbatcha.com.