Macron em Angola: Geoestratégia e economia em foco
2 de março de 2023As relações políticas e económicas entre Angola e França iniciaram logo após a independência, em 1975, e passaram por fases altas e baixas.
Em termos económicos, Angola continua a ser um parceiro importante para França, sobretudo para comprar petróleo. França é um dos maiores investidores estrangeiros em Angola, onde operam dezenas de empresas francesas. A TotalEnergies é a maior delas, sendo responsável por mais de 40% da produção petrolífera angolana, de acordo com dados oficiais.
O politólogo angolano Orlando Ferraz, que reside na Alemanha e acaba de lançar um livro intitulado "Angola, Caminhos e Desafios da Reconciliação e da Reconstrução", considera que o petróleo tem um peso excessivo nas trocas comerciais com a França e que seria necessária uma certa diversificação.
"A exportação é baseada num único produto, o petróleo, e também alguns dos seus derivados. Portanto, está mais do que claro que a diversificação da economia é muito importante, mas na prática pouco se faz."
Aposta na agricultura
O setor da agricultura figura como um dos pilares das futuras relações económicas entre a França e Angola. No Fórum Empresarial França-Angola, em que participam empresários dos dois países, será lançada uma parceria no setor agroalimentar.
Orlando Ferraz diz que a iniciativa é bem-vinda, desde que não seja imposta aos angolanos: "Temos, de facto, o campo da agricultura e da agropecuária, onde temos um grande potencial, que pode beneficiar não apenas França e Angola, mas também Portugal e até a Alemanha", referiu.
Em termos económicos, a parceria França-Angola, segundo Paris, tem tudo para dar certo. E em termos políticos? Será que há pontos de encontro entre as agendas de Angola e de França, que tem necessariamente uma perspetiva eurocentrista?
Para o analista Henrique Depende, as agendas de França e de Angola não coincidem no capítulo da política internacional, sobretudo num tema atual, que é a abordagem em torno da guerra Rússia-Ucrânia.
Uma questão de geoestratégia
Henrique Depende sublinha que "a vinda de Macron, do ponto de vista político, não terá assim tantos ganhos".
O Presidente francês estará, sobretudo, interessado numa outra questão: "Neste momento, pode-se perceber que a visita serve apenas para criar uma rede, que o Ocidente está a tentar criar, para maximizar os apoios africanos relativamente à Ucrânia e mobilizar mais apoios para condenar a Rússia", afirma Henrique Depende.
Para que a visita de Macron a Angola traga frutos, também em termos políticos, João Lourenço deveria definir uma linha bem vincada da sua política externa, mas isso não acontece, refere o especialista em política internacional.
"Tem que se definir o que queremos com a França e colocar isso em cima da mesa durante o encontro entre os dois presidentes, para depois ver se há ou não convergências. Eu acho que isso poderá fazer com que a visita de Emmanuel Macron seja uma mais-valia", defende Henrique Depende.
O politólogo Orlando Ferraz prefere salientar que não há conflitos políticos agudos entre Paris e Luanda. Nem sequer a guerra Rússia-Ucrânia consegue beliscar as boas relações entre os dois países, refere Ferraz, que prefere realçar os pontos em comum entre os dois países.
"Não me parece, neste momento em que Emmanuel Macron visita Angola, que haja qualquer desavença, ou qualquer conflito do ponto de vista político entre os dois estados, eventuais pontos de divergência possam haver, elas praticamente são contornadas através do económico que a França joga no contexto económico de Angola” salienta Orlando Ferraz em entrevista à DW.