"Madgermanes": Deixar a carreira para trás
16 de fevereiro de 2019"O meu sonho era exercer a profissão em que me formei na Alemanha", conta António Maússe, de 51 anos, taxista e antigo trabalhador da ex-República Democrática Alemã, RDA. Mas o sonho nunca se tornou realidade. António trabalhou na Alemanha durante quase quatro anos como processador de carnes, numa indústria de conservas, no âmbito do acordo entre Moçambique e a RDA que levou milhares de moçambicanos à antiga Alemanha de Leste. Quando regressou ao país de origem, empregou-se como taxista.
"O meu desejo era pôr os meus filhos menores a estudar, acabar a minha casa, comprar um táxi para ter algo meu e ter 'status' na sociedade e gozar uma vida condigna como os outros", explica.
Hoje, ganha o equivalente a 43 euros mensais. A vida nunca mais foi como aquela que levava na Alemanha: "A vida está difícil. Ser taxista não é um emprego garantido. Hoje fazes táxi e amanhã o carro pode avariar. Não está fácil. Os táxis não são meus, estou a trabalhar como biscateiro e nem tenho nenhum fundo para tal."
Da indústria para a estrada
António Maússe gostaria que as coisas mudassem em Moçambique. A rota que faz, na periferia da cidade, não dá muito lucro, porque as pessoas preferem apanhar o transporte semicoletivo de passageiros, vulgo "chapa".
"Eu faço Xikheleni-Albasine. Antes, fazia Khawena. Em 1991, quando voltei, dependia muito das pessoas que me ligavam para as levar aos seus destinos", recorda.
Recém-chegado a Moçambique, desempregado, aproveitou para tirar a carta de condução e empregou-se como taxista. "Mas o meu sonho era exercer a profissão em que fui formado na Alemanha. Não foi assim que aconteceu, nem mesmo as promessas de dinheiro que descontávamos na Alemanha", lembra. Com o dinheiro do táxi está, desde 1991, a tentar construir uma casa própria, mas não consegue acabar a obra: "A construção está a meio".
Desde que regressou da Alemanha, só consegue "sobreviver" com a ajuda das filhas e da esposa que "faz negócio na África do Sul, vende verduras, aquilo que muitas senhoras fazem".
Na Alemanha, deixou uma família com quem tem mantido comunicação e que espera um dia voltar a ver: "Tenho lá uma filha e dois netos. Um de seis e outro de quatro anos. Tenho comunicação com a minha família lá e falamos a qualquer momento".