"Madgermanes" descontentes com o semanário "Domingo"
22 de janeiro de 2015
Cerca de 150 antigos trabalhadores moçambicanos na ex-República Democrática Alemã, vulgo "madgermanes" (ou também "madjermanes"), manifestaram-se esta quarta-feira (21.01) em frente da Sociedade Notícias, em Maputo, para exigir a publicação de um desmentido em relação a um artigo publicado pelo semanário "Domingo".
No referido artigo não assinado, o jornal "Domingo" insinuava que as manifestações de rua realizadas todas as quartas-feiras nas ruas de Maputo pelos "madgermanes" eram instigadas pelo embaixador da Alemanha, acusação desmentida pelo grupo.
Os "madgermanes" acusaram o jornal pró-governamental “Domingo”, de ter publicado um artigo difamatório, sem ouvir todas partes envolvidas na matéria.
No artigo, o jornal insinuava que o embaixador da Alemanha em Maputo visitou em outubro o “quartel-general” dos "madgermanes" para instigar o grupo a manter a realização de manifestações de rua como forma de pressão sobre o Governo e para apoiar o maior partido da oposição, a RENAMO.
"Madgermanes" exigiram o direito de resposta
Arnaldo Mendes, vice-presidente dos "madgermanes", disse que o grupo deslocou-se ao "Domingo" porque a publicação não cumpriu com a promessa de divulgar o direito de resposta e negou estarem a ser instrumentalizados.
"Não somos manipulados por nenhum partido, não somos instrumentalizados por ninguém e não aceitamos ser instigados à violência por ninguém. Tínhamos que responder à essas acusações", sublinhou Arnaldo Mendes.
Alfredo Dacala, chefe de redação do "Domingo", disse que o jornal não publicou o direito de resposta porque não recebeu qualquer documento nesse sentido: "Quem, de facto, veio manifestar essa situação foram alguns deles, aliás dissemos isso no próprio artigo. Que houve elementos do grupo dos "madgermanes" que nos contactaram para nos contar o que se passa no seio deles".
"Temos uma ligação muito forte com a Alemanha"
Arnaldo Mendes confirma a visita do embaixador da Alemanha à sede dos "madgermanes" mas disse que as recentes notícias não vão por em causa as relações com a Alemanha.
"A visita do embaixador foi a nosso convite porque existe uma ligação muito forte que temos com a Alemanha, uma ligação de sangue e que ninguém vai conseguir destruir. Temos filhos na Alemanha, mais de duas mil crianças nossos estão naquele país".
Dacala afirmou que elementos da segurança afetos ao jornal, que na altura se encontravam na entrada do edifício, foram seviciados pelos manifestantes quando tentavam impedir que estes se dirigissem à redação.
Arnaldo Mendes diz que não se registou violência mas admite que possa ter havido alguns excessos.
O chefe de redação do "Domingo" espera que o assunto tenha ficado encerrado. "Delegamos três elementos do nosso Conselho de Redação para negociar com eles e acharam que havia uma base de entendimento. Assim essas pessoas se retiraram das nossas instalações. Não foi necessária sequer a intervenção da polícia."
E mais medidas foram tomadas, segundo Mendes: "O que fizemos em seguida foi recolher um ou dois depoimentos dos chefes do grupo sobre essa matéria. Vamos publicar esta versão, mas tendo em conta, contudo, aquilo que eles dizem que não concordam sobre a nossa matéria".
Manifestações dos "madgermanes" vão continuar
O porta-voz dos "madgermanes" revelou que o grupo vai retomar no próximo dia 28 as manifestações de rua suspensas em dezembro.
Disse que as manifestações não serão interrompidas enquanto o Governo não concluir o pagamento das compensações dos descontos que efectuaram na ex- RDA.
O Governo afirma, no entanto, que o assunto está encerrado após ter desembolsado 41,4 milhões de euros de indemnizações aos "madgermanes".
Recorde-se que ao abrigo da cooperação que o Governo de Moçambique mantinha com o bloco do leste, milhares de trabalhadores moçambicanos foram contratados para trabalhar na RDA, regressando depois ao seu país após a reunificação alemã.
Polícia proibiu em dezembro o protesto semanal
No dia 23 de dezembro, a polícia moçambicana anunciou a proibição do protesto semanal que os ex-trabalhadores moçambicanos na antiga Alemanha de Leste vinham realizando há mais de 10 anos, apontando razões de ordem pública.
A polícia acusa-os de atirarem pedras e outro tipo de objetos contra veículos e transeuntes, nas suas marchas semanais, gerando o risco de confrontos nas avenidas de Maputo.
As marchas do grupo, que contesta o valor pago pelo Governo, eram autorizadas pelas autoridades e muitas vezes escoltadas por batedores da polícia, para impedir que o trânsito fosse afetado pelo protesto.