A reaproximar famílias de madgermanes há mais de uma década
13 de fevereiro de 2018O "Reencontro Familiar" é um projeto criado há mais de dez anos por ex-trabalhadores da antiga República Democrática Alemã (RDA), chamados madgermanes.
Até agora, facilitou o encontro de cerca de 50 pais que viveram e trabalharam na Alemanha com mais de 60 filhos que estão a viver na Europa.
Juntos 24 anos depois
Fernando Ali, 54 anos de idade, reencontrou o filho no ano passado graças à iniciativa. Quando voltou para Moçambique, após a reunificação da Alemanha em 1990, Ali deixou o filho Kevin no país. Mas em 2017, o jovem, que completa 24 anos este ano, viajou a Moçambique para reencontrar o pai.
Os dois passaram nove meses juntos a relembrar o passado. Kevin gostaria de ficar com o pai em Moçambique, mas acabou por voltar. "O país atravessa muitas dificuldades. Teve de voltar para a Alemanha. É muito doloroso, porque não queríamos ficar separados. Foram tantos anos sem comunicação. Ele procurava por mim e eu por ele. Durante 24 anos, não conseguimos nos localizar, até ao ano passado", contou o pai em entrevista à DW.
Emocionado, Fernando Ali acrescentou que, neste momento, seria muito difícil voltar a viver na Alemanha, com Kevin e com a mãe dele. Hoje, Fernando Ali tem outra família em Moçambique: "A minha atual esposa respondeu que eu poderia ir, desde que trabalhasse e mandasse dinheiro", revelou. Mas o moçambicano acredita que, com a sua idade, seria difícil arranjar emprego na Alemanha.
Mais reencontros
Também Júlio Armando, de 57 anos, trabalhou na antiga Alemanha de Leste. Não deixou uma família para trás, mas ajudou uma menina a encontrar o pai em Moçambique. "Ela esteve cá em julho de 2017 e conseguiu localizar o pai, que agora está na África do Sul. Aproveitou a oportunidade para visitar Inhambane, a terra natal do seu pai", relatou.
Segundo Armando, a menina disse que gostaria de levar a mãe para viver em Moçambique.
Como tudo começou
O responsável pela iniciativa "Reencontro Familiar" é Zeca Cossa. Este madgermane lembra que tudo começou quando uma menina na Alemanha insistiu em conhecer o pai em Moçambique. Isso foi em 2005. Cossa passou, então, a usar a lista dos madgermanes que tinha em todo o país e começou a dedicar-se ao assunto. "Quem é, onde vive, a sua tribo. E foi a partir daí que comecei a trabalhar com isso", explica.
Zeca Cossa conta agora com a ajuda da menina que localizou o pai na cidade da Beira, no centro de Moçambique. Ela, na Alemanha, procura pelos filhos de moçambicanos com mais de 25 anos de idade. "Eu disse que ela deveria procurar outros mulatinhos, cujos pais são de origem moçambicana e que nunca os viram. Ela aceitou o desafio. E, desde 2005, procura por essas pessoas. Só ela já conseguiu ajudar três famílias a reencontrarem-se".