Mais ameaças a jornalistas na Guiné-Bissau
10 de fevereiro de 2022Maimuna Bari, jornalista ferida gravemente durante o ataque de homens armados e encapuzados à Rádio Capital FM, já conseguiu visto e passagem para ser transportada, esta sexta-feira (11.02), para Lisboa, para ser tratada no Hospital de Santa Maria.
Todo o processo foi tratado pelo Sindicato dos Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social (SINJOTECS) da Guiné-Bissau, na pessoa da sua presidente Indira Correia Baldé e da vice-presidente Fátima Tchumá.
"Em nome do sindicato eu queria agradecer à Embaixada de Portugal pela disponibilidade e prontidão em resolver a questão do visto para a nossa colega Maimuna Bari", afirmou Tchumá em declarações à DW África.
Onda de solidariedade
O transporte da jornalista, vítima de várias fraturas em todo o corpo, terá custos avultados, pois terá que ser acompanhada por uma familiar. O tratamento no hospital não deverá ser suportado pelo acordo bilateral entre Portugal e a Guiné-Bissau.
A vice-presidente do sindicato dos jornalistas confirma, no entanto, que a sua organização conta com apoios de várias organizações não-governamentais e particulares que se solidarizaram com as vítimas do ataque à Rádio Capital FM.
"Eu gostaria de agradecer a pessoas de boa vontade que se prontificaram a dar apoios ao sindicato dos jornalistas para a compra do bilhete de avião a Maimuna Bari, e aproveito aqui para agradecer à organização alemã Fórum da Paz que assumiu o custo da viagem, inclusive já fez a transferência, e também a outras individualidades que prestaram vários outros apoios."
Mais ameaças
Ao mesmo tempo, o sindicato dá conta de novas ameaças contra outros jornalistas.
A última ameaça terá ocorrido no Bairro Militar, em Bissau. Segundo Fátima Tchumá, uma equipa de reportagem da RTP África, liderada pela presidente do SINJOTECS, Indira Correia Baldé, foi ameaçada por um grupo de jovens.
"Aproximaram-se do carro com palavras de ameaça, a dizer: 'já resolvemos o problema da Capital FM, agora falta só tratar do problema da RTP África'. Este tipo de pronunciamentos não deixa ninguém seguro."
"Esquadrão da morte"
A Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) considerou esta quinta-feira (10.02) que os alicerces do Estado de Direito democrático na Guiné-Bissau nunca estiveram tão ameaçados.
Segundo a LGDH, as conquistas democráticas do país "encontram-se fortemente comprometidas desde a instalação do regime político vigente, cujo propósito principal se traduz no confisco gradual dos direitos e liberdades fundamentais para instalar um regime totalitário".
Este "quadro nebuloso" tem sido "ensombrado por um ostensivo clima de insegurança generalizada sustentado pela crispação política", continua a organização. A 1 de fevereiro, várias pessoas morreram durante o ataque ao Palácio do Governo. Menos de uma semana depois, as instalações da Rádio Capital FM foram destruídas por homens armados, encapuzados, e as casas de analistas críticos do Presidente da República e do Governo também foram atacadas.
O Executivo guineense condenou o sucedido. No entanto, em entrevista à DW, esta semana, o presidente da LGDH, Augusto Mário Silva, denunciou a existência de um "esquadrão da morte do atual regime".
A LGDH enviou uma carta aberta ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, à presidente da Comissão da União Europeia, Ursula Von Der Leyen, e ao presidente da União Africana, Macky Sall, a alertar para a situação dos direitos humanos no país. No documento, a organização pede uma "intervenção mais enérgica e vigorosa da comunidade internacional sob pena de contribuir indiretamente para a instabilidade permanente, com consequências sub-regionais".
A embaixadora da União Europeia na Guiné-Bissau, Sónia Neto, condenou esta quinta-feira qualquer tipo de violência. "É inequívoca a nossa defesa dos direitos humanos, que fazem parte do princípio basilar do projeto europeu", salientou.