Mais de 100 famílias continuam desalojadas em Benguela
16 de janeiro de 2017Os populares do município da Baía Farta, a sul da província angolana de Benguela, que viram as suas casas demolidas em novembro passado continuam a viver ao relento e sem apoio. As famílias viviam no Bairro Atlântico, mais conhecido como Maboque, e acabaram por ser transferidas para zonas montanhosas em condições indignas.
Em novembro, o Governo provincial explicou que o desalojamento dessas famílias era para dar lugar a um investimento privado. O lugar onde habitavam pertencia a uma fábrica estatal de conservas, paralisada há mais de 30 anos. O problema é que o local onde os populares foram realojados não tem condições de habitabilidade.
À DW África, Afonso António, um dos desalojados, fala de uma situação dura. O morador denuncia que o Governo distribuiu tendas apenas para seis famílias. As restantes 129 ficaram ao relento.
"Você imagina, cento e trinta e cinco famílias com seis tendas. É complicado. E nós estamos aqui mesmo com a mão na cabeça como é que vamos organizar isto. Vai ser uma fase, às vezes, com o tempo irão nos apanhar mas não estamos a ver", afirma.
Daniel André, outro desalojado da Baía-Farta, diz-se bastante desapontado com a situação: "Estamos aqui a sofrer muito, não há solução nenhuma. Não estamos a trabalhar. Estamos aqui mesmo parados sem nada para fazer.”
Promessa não cumpridaAquando das demolições, em novembro, o governador de Benguela, Isaac dos Anjos, tinha garantido que, até dezembro, iria dar às famílias materiais de construção e outros bens essenciais. No entanto, a situação mantém-se.
Os desalojados dizem ainda que a presença das autoridades deixou de ser sentida. Daniel André, outro desajolado queixa-se que a vida naquela zona "está difícil”.
"No princípio nos apanhavam com água, (coisa que) agora já não temos água, é preciso mandar "caleluia” (motorizada) ir buscar a àgua muito distante. Até aqui não tem como. Prometeram-nos dar chapas, blocos, cimento, e até aqui nada. Não estamos a ver o que o senhor governador prometeu.”
Há quem tenha também perdido a esperança em dias melhores. "Ninguém está a resolver nada. Só estamos a olhar para ver o que irá acontecer. Até já não temos mais boca para falar. Vamos fazer mais como?", questiona Bernardo Nguli de 70 anos de idade.
Contatada pela DW África, a administradora municipal da Baía Farta, Maria João, recusou-se a falar sobre o assunto, alegando não ter autorização do Governador da província.