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Mali acusa Exército francês de "espionagem" e "subversão"

Lusa
27 de abril de 2022

A junta militar maliana acusou as Forças Armadas francesas de "espionagem" e "subversão", após o Estado-Maior francês ter divulgado vídeos feitos por um 'drone' perto de uma base no centro do Mali entregue pela França.

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Foto: THOMAS COEX/AFP/Getty Images

As autoridades "observaram desde o início do ano mais de cinquenta casos deliberados de violação do espaço aéreo maliano por aeronaves estrangeiras, em particular operadas por forças francesas", refere Bamako num comunicado divulgado esta terça-feira (26.04).

Um dos casos mais recentes de "violação do espaço aéreo maliano" foi "a presença ilegal de um 'drone' das forças francesas, em 20 de abril de 2022, sobre a base de Gossi", pode ler-se num comunicado divulgado pela força no poder em Bamako.

"Além de espionagem, as forças francesas são culpadas de subversão ao publicar imagens falsas, fabricadas do zero, para acusar [os soldados malianos] de serem os autores dos assassinatos de civis", acrescenta.

Investigação

A justiça militar do Mali anunciou também esta terça-feira a abertura de uma investigação após "a descoberta de uma vala comum em Gossi" (centro), onde Paris acusa mercenários russos de terem enterrado corpos perto de uma ex-base militar francesa.

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Protesto contra a presença francesa em BamakoFoto: Florent Verges/AFP

A investigação foi aberta pelo promotor público do tribunal militar de Bamako "por instruções do Ministério da Defesa", segundo um comunicado da Procuradoria.

Segundo a nota, um procurador deslocou-se a Gossi em 23 de abril, acompanhado por vários investigadores "para esclarecer os factos" e "a opinião pública será regularmente informada do andamento da investigação, cujos resultados serão tornados públicos".

Em 21 de abril, dois dias depois de entregar a base de Gossi às Forças Armadas do Mali o exército francês comprometeu-se a combater o que descreveu como um "ataque informativo" e publicou um vídeo em que surgem o que Paris alega serem mercenários russos a enterrarem corpos perto da base.

As imagens, registadas por um aparelho aéreo não tripulado, mostram soldados a cobrirem corpos com areia e noutra sequência das imagens aparecem dois desses soldados a filmarem os corpos semienterrados.

O Estado-Maior francês garante que são soldados caucasianos e sugere que se trata de membros da empresa militar privada russa Wagner, que identificou em vídeos e fotos tiradas noutros locais.

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"Vala comum"

No dia seguinte à publicação das imagens, o Estado-Maior do Mali anunciou que havia descoberto "uma vala comum, não muito longe do campo anteriormente ocupado pela força francesa Barkhane", designação da operação francesa contra extremistas islâmicos no Sahel.

"O estado de putrefação avançada dos corpos indica que esta vala comum existia muito antes da entrega. Por conseguinte, a responsabilidade por este ato não pode de forma alguma ser imputada às Forças Armadas do Mali", acrescentou então o Estado-Maior maliano.

Mergulhado desde 2012 numa profunda crise de segurança que o envio de forças estrangeiras não conseguiu resolver, o Mali passou por dois golpes militares desde agosto de 2020.

A junta militar no poder em Bamako aproximou-se gradualmente de Moscovo ao mesmo tempo que se afastou de França, que desde 2013 está envolvida militarmente na luta contra o extremismo islâmico.

No contexto da crise diplomática com Bamako, Paris anunciou em fevereiro a retirada dos militares que mantinha estacionados no Mali, uma operação que deverá ficar concluída neste verão.

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