Mali: Proposta de prolongamento da transição gera impasse
4 de janeiro de 2022A nova proposta foi comunicada em Acra pelo ministro dos Negócios Estrangeiros do Mali, Abdoulaye Diop, ao presidente em exercício da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), o chefe de Estado do Gana, Nana Akufo-Addo, na sequência de uma conferência nacional de reforma boicotada por partidos políticos e organizações sociais.
De acordo com um cronograma de atividades apresentado à CEDEAO, as autoridades de transição pretendem realizar um refendo constitucional em janeiro de 2021, as eleições legislativas em novembro de 2025 e as eleições presidenciais em dezembro do ano 2026, o mais tardar.
A proposta do Governo de transição divide opiniões entre os malianos. Para Perpétue Uroogon do Gurpo de Patriotas do Mali, uma organização da sociedade civil cinco anos é muito pouco tempo para o regime do coronel Assimi Goita:
"Eu diria [que são necessários] mesmo 10 anos para que possam voltar a pôr o Mali no bom caminho e para o bem dos malianos. Não precisamos de política, até porque foi a política que nos levou a este buraco. Queremos que o nosso país se recupere para que as crianças possam beneficiar das riquezas do Mali," considera.
Partidos políticos discordam
Os resultados das consultas realizadas nos últimos dias no Mali entre as diferentes forças políticas e sociais do país propõem estender o período de transição entre seis meses e cinco anos.
O grupo dos partidos políticos para uma transição bem-sucedida, constituído por uma dúzia de representações partidárias, condena firmemente a proposta das autoridades de transição. Tal implica adiar a data das eleições marcadas para fevereiro próximo para que o país possa voltar a recuperar a legitimidade constitucional.
Amadou Koita, ex-ministro e presidente do partido PS Yeleen é um dos opositores: "Exigimos que as autoridades interinas respeitem a Carta de Transição. Exigimos ainda o respeito pelo prazo de transição, que respeitem os compromissos assumidos perante a opinião nacional e internacional".
"Convidamos o Governo a empreender todas as ações necessárias para a organização de eleições gerais, de acordo com o calendário publicado pelo mesmo Governo, a 27 de fevereiro de 2022", exorta.
Soluções diplomáticas
A CEDEAO poderia aumentar as suas sanções contra o Mali se o Governo de transição decidir não respeitar o prazo para a realização das eleições, de acordo com alguns observadores.
Mas o advogado Alifa Habib Koné apresenta uma outra proposta para a solução:
"Em vez de a CEDEAO decretar sanções que não estão previstas nos seus textos, poderia encorajar cada um dos seus membros, particularmente os muitos vizinhos do Mali, a romper as relações diplomáticas com o país. Já que cada Estado soberano, pode efetivamente tomar esta decisão, uma vez que o Mali tem muitas fronteiras e não tem acesso ao mar," sugere.
À semelhança da França, antiga potência colonial do Mali, a CEDEAO exige que Bamako respeite o período de transição estabelecido 18 meses após o primeiro golpe de Estado e que termina em fevereiro, quando devem ser convocadas eleições presidenciais e legislativas. Mas outros países como China, Rússia, Argélia e Marrocos apoiam a posição da junta militar e pedem que se leve em consideração a atual situação de insegurança no Mali, marcada pela atividade 'jihadista'.
O mediador da CEDEAO na crise do Mali, Goodluck Jonathan, antigo Presidente da Nigéria, é esperado em Bamako na quarta-feira (05.01). Quanto aos Chefes de Estado e de Governo da organização sub-regional, realizarão uma cimeira extraordinária no próximo domingo (09.01) em Acra, no Gana.