Manica: Desmobilizados acusam Governo de não cumprir acordos
25 de agosto de 2023Os desmobilizados da RENAMO na província moçambicana de Manica dizem estar a passar fome devido à falta de pagamento das pensões, alegam falta de habitação própria e de outras condições para a sua comodidade na sociedade.
André Matsangaíssa Júnior, desmobilizado da RENAMO na província e desertor da Junta Militar, alega que os desmobilizados vivem em condições precárias e pede ao Governo a resolução dos problemas antes que se crie um ambiente de terror como forma de pressionar o cumprimento dos acordos.
Matsangaíssa Júnior argumenta ainda que não são considerados nas comunidades e apela aos líderes comunitários para que respeitem os desmobilizados residentes na sua área de jurisdição.
"Porque com AK47, esses homens não morriam à fome, não dormiam sozinhos, usavam o que queriam e faziam tudo o que vocês fazem aqui dentro da cidade. Gostaria que o governo criasse essas condições, que fosse mais célere a pagar esses homens porque são ‘búfalos feridos'. Estou a pedir para que os partidos tenham respeito para com os desmobilizados porque os nossos amigos nos perdem respeito", argumenta.
"Processo de DDR ainda é complexo"
Luís Elias Matundo é outro desmobilizado no âmbito do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) que lamenta a situação em que vivem desde que foram desmobilizados e pede ao Governo que apresente uma solução.
"Agora estamos aqui a sofrer, não temos casa, as crianças sofrem, não temos terrenos. O dinheiro está onde? Dizia-nos que quando saíssemos teríamos projetos. Onde estão? Foi tudo mentira. Queremos paz em Moçambique, e se não cumprirem, não acaba o conflito em Moçambique", ameaçou.
Em entrevista à DW, o secretário de Estado na província de Manica, Dick Cassotche, garante que vai reunir-se brevemente com os desmobilizados para perceber de perto os problemas que enfrentam.
"O processo de DDR ainda é complexo. Temos que ter muita paciência porque muitas vezes tiramos conclusões precipitadas. Há vários níveis de pessoas implicadas. Então, dentro do meu nível, tenho que ainda ouvir essas pessoas e depois reportar à sua excelência o Presidente da República. Além disso, as pessoas recebem um talhão e não fazem nada. Vendem o talhão e a culpa é do Governo. Recebem o Direito do Uso e Aproveitamento de Terra (DUAT), não fazem nada com o DUAT e a culpa é do Governo", explicou o secretário de Estado na província de Manica.