Manifestantes marcham contra criminalidade em Angola
16 de junho de 2018A caminhada em "silêncio", promovida pelo Observatório para Coesão Social e Justiça, juntou na tarde deste sábado (16.06), dezenas de cidadãos que marcharam do Largo do Porto de Luanda até à Praça do Baleizão, localizada na baixa da cidade de Luanda.
Os manifestantes exibiam cartazes com vários dizer como "Quero trabalho para eu deixar de roubar" e "Desmantelamento imediato dos esquadrões da morte", entre outros.
A manifestação foi uma das poucas autorizadas pelo Governo Provincial de Luanda no centro da cidade nos últimos anos e foi acompanhada de perto pela polícia.
Os participantes da marcha contra a "violência e a banalização da criminalidade" em Angola apontam como solução para o fim deste conflito social a implementação geral de uma política de coesão social, que tutela o exercício dos direitos fundamentais básicos, entre os quais, a educação, a saúde, a habitação, o emprego e "fundamentalmente a igualdade de oportunidades".
O ato contra ações criminosas em Angola aconteceu semanas depois de um agente do Serviço de Investigação Criminal (SIC) ter morto a queima roupa um jovem, acusado de ser delinquente.
Para além disso, a capital angolana continua a registar vários casos chocantes de crimes diversos. Por isso, estes cidadãos decidiram marchar para exigir das autoridades que tome medidas claras para reduzir a onda de assaltos e assassinatos no país.
No comunicado final, os manifestantes apelaram à união dos cidadãos "para combater a violência de forma coerente e pacífica, dentro dos princípios de Estado de Direito, baseando-se nas normas vigentes, incentivar a transmissão de valores e princípios morais que despertem a juventude e a futura geração - sobretudo o critério da resolução dos conflitos sociais pela via não violenta - e fomentar o desenvolvimento de um Estado", lê-se no documento lido pelo advogado Zola Bambi, coordenador do Observatório para a Coesão Social e Justiça.
Os manifestantes repudiaram de forma "arrepiante" a natureza dos crimes, que na sua maioria acontecem em plena luz do dia, em assaltos a mão armada a "residências, estabelecimentos comercias, agências bancárias, roubos com violência acentuada, raptos, violações sexuais, torturas, homicídio e ocupação ilegal de terras".
Desemprego na base do problema
Albano Capiñala, um dos participantes da marcha, disse à DW África que o desemprego é um dos grandes factores que levam os jovens a abraçar a delinquência.
"A base da criminalidade é o desemprego. Os jovens recorrem a isso [o crime] por falta de orientação. Então, a polícia não deve responder da mesma maneira violenta. O Governo deve estar mais aberto para as políticas destinadas à juventude. E, quando isso acontecer, a polícia terá pouco trabalho," considerou o jovem que condena a ação do SIC que executou um cidadão na via pública.
Oliveira Carlos também aponta a falta de emprego e formação como gatilho da criminalidade.
"Precisamos que o Governo crie novas políticas que possam empregar mais jovens. Em Viana, um empresário reuniu-se com alguns jovens delinquentes para saber a razão das suas ações e os mesmos foram unânimes em dizer que precisam de emprego em troca da delinquência e isso quer dizer que há fome. E quando trata-se da questão da barriga, não há quem resista", afirmou o jovem angolano.