Manifesto Eleitoral da UNITA propõe "Governo da mudança" e fixa prioridades
27 de julho de 2012Trata-se de um documento de 44 páginas cujas ideias se resumem no lema da campanha do maior partido da oposição angolana "Unidos Pela Mudança".
A nível da Política Externa, o Manifesto Eleitoral da UNITA assegura que irá honrar os compromissos do Estado angolano e "consolidar a identidade africana de Angola, para além de incentivar a sua integração regional". Por outro lado, o partido do Galo Negro manifesta a intenção de empenhar-se ativamente nos esforços diplomáticos com vista à prevenção e resolução de conflitos no plano internacional.
Em entrevista à DW África, Isaías Samakuva (IS) disse que propõe aos eleitores angolanos um "Governo da Mudança", com sete prioridades de governação, nomeadamente uma mudança das políticas, das estratégias, dos valores e das práticas até agora levadas a cabo naquele PALOP.
DW África: Quias são os principais eixos da linha programática da UNITA para as eleições gerais em Angola?
Isaías Samakuva (IS): O nosso programa de governação contempla sete prioridades que envolvem aspectos ligados à saúde, à educação, à habitação, ao combate à pobreza e também alguns aspectos de carácter econômico. Em primeiro lugar devo dizer que o nosso governo será para todos os angolanos sem discriminação de côr ou filiação partidária. Na nossa governação, que chamamos de “Governo da Mudança”, vamos resolver os principais problemas nacionais e pensamos que haverá a necessidade de ser elaborado e aplicado um programa de emergência cujo objetivo será precisamente solucionar os problemas mais urgentes.
DW África: ...Mas todos os partidos que estão na corrida eleitoral dizem o mesmo. O que é que a mensagem da UNITA tem de diferente?
IS: Repito que esses problemas irão exigir do governo da UNITA um programa de emergência e por conseguinte as questões não serão tratadas como problemas normais, mas sim como algo que requer resposta urgente. E mais... para nós a pobreza é uma questão de segurança nacional. Daí que pensamos atribuir uma grande verba retirada do Orçamento do Estado para atacar a pobreza. É essa a diferença entre a UNITA e os outros partidos candidatos. De facto, todos os outros falam da mesma coisa, mas nós iremos ter um programa especial.
DW África: Esse programa especial inclui a paz e o aprofundamento da democracia em Angola?
IS: Nos sete pontos prioritários da nossa ação o último é exactamente sobre a paz e a democracia. O compromisso de honra da UNITA para com a democracia e o Estado de Direito.
DW África: Então a democracia não é sómente um sonho em Angola...
IS: Queremos precisamente transformar a democracia numa realidade. Até hoje, tem sido um sonho, com os jovens a reclamarem os seus direitos e liberdades e que muitas vezes são presos por terem exigido esses direitos. Queremos acabar de uma vez por todas com esta prática.
DW África: Que retrato faz do seu país nas vésperas do pleito eleitoral de 31 de agosto?
IS: É um quadro preocupante. Quando são preparadas para as eleições unidades militares e que começam a ser disseminadas pelas aldeias e províncias, causando problemas, praticando atos de violência contra as populações e campanhas de intimidação contra os cidadãos, a situação torna-se preocupante. Face a esta situação interrogo-me: quererão as autoridades governamentais criar problemas para talvez não se realizarem as eleições? Por outro lado, o próprio processo eleitoral não está a ser transparente como deveria ser. Constantemente, ouve-se falar de uma certa tendência para o surgimento de situações menos claras. Mas se falarmos do ponto de vista social veremos que a cada dia que passa o povo exige uma verdadeira liberdade. É esse mesmo povo que diz que já sofreu muito e que agora as coisas precisam mudar.
DW África: Acha que este clima político (que antecede as eleições) poderá criar algum receio na sociedade angolana sobre um eventual “descambar em violência pós-eleitoral“ à imagem do que aconteceu, por exemplo, na Costa do Marfim?
IS: Já se criou esse receio e vejo isso principalmente quando se ouvem repetidas declarações de líderes religiosos e outros líderes nacionais que têm apelado à tranquilidade, à paz e à concórdia. Esses apelos multiplicam-se exatamente porque as pessoas ficaram preocupadas com a forma como o processo eleitoral está a decorrer... com algumas dificuldades.
DW África: Angola hoje é a Angola dos seus sonhos quando entrou para a UNITA?
IS: Não. A Angola que temos hoje não é aquela com que sonhamos não só quando entrei para as fileiras da UNITA mas quando ainda era muito jovem... nem também é a Angola que os combatentes da liberdade sonharam e idealizaram. Por isso mesmo queremos assumir os destinos do país para que possamos proporcionar aos angolanos a Angola com que sempre sonharam.
DW África: A UNITA já disse que não vai aceitar fraudes. Mantém ainda esta posição? E que mecanismos tem o seu partido para controlar ou denunciar eventuais fraudes?
IS: A UNITA não vai permitir a ocorrência de fraudes e nem as vai aceitar. Temos o povo do nosso lado e a vontade dos angolanos poderá impôr de facto uma eleição transparente.
DW África: A UNITA figura no primeiro lugar no boletim de voto para as eleições, segundo o sorteio efectuado pela Comissão Nacional Eleitoral(CNE). É um obstáculo ou uma mais valia para o seu partido?
IS: Pensamos que é uma mais valia. Naturalmente para a nossa população com uma elevada percentagem de pessoas que não sabe ler nem escrever, torna-se fácil para nós explicar a esses eleitores onde se encontra o lugar da UNITA.
DW África: A UNITA entra na corrida eleitoral enfraquecida e abalada com as dissidências verificadas nas suas fileiras, nomeadamente a de Abel Chivukuvuku?
IS: Isso é o que muita gente pensa. Acontece que os que saíram da UNITA já só estavam no partido formalmente. Saíram uns poucos e estão a entrar muitos. O que conta para nós é a diferença entre os que saem e os que entram. As pessoas são livres e esses movimentos de saídas e entradas são normais. Não estamos preocupados.
DW África: A situação de Cabinda faz parte das preocupações da UNITA neste processo eleitoral?
IS: A nossa posição sobre Cabinda é conhecida desde há muito. Reconhecemos que Cabinda tem algumas especificidades, reconhecemos que o enclave tem um problema que requer uma solução participada, abrangente e que resulte do diálogo com as forças vivas da região. Vamos ao ponto de sugerir uma autonomia para o enclave de Cabinda, do tipo os Açores ou a Madeira em relação a Portugal.
DW África: Quem são Isaías Samakuva e Ernesto Mulato, os dois nomes propostos para presidente e vice-presidente de Angola, respetivamente, caso a UNITA ganhe as eleições?
IS: São dois cidadãos simples, servidores do povo angolano há décadas e que buscam apenas a liberdade e a prosperidade para Angola e para os angolanos....
Autor: António Rocha
Edição: Cristina Krippahl