MDM em crise: Partido pode "desaparecer"
19 de junho de 2018O MDM corre o risco de sofrer uma derrocada, segundo o especialista em boa governação Silvestre Baessa. A segunda maior força da oposição, que há tempos vive uma crise sem precedentes, viu um dos seus membros recusar publicamente ser o cabeça de lista para as autárquicas deste ano e outro alto quadro abandonar as fileiras, tudo originado por falta de democracia partidária, segundo eles.
Primeiro, foi Venâncio Mondlane a colocar em xeque o MDM, ao rejeitar publicamente, na última semana, ser o cabeça de lista do partido as eleições autárquicas de outubro de 2018. Mondlane, que é deputado do MDM, explicou em linhas gerais à DW África o que motivou o seu posicionamento: "Não fui consultado, não dei o meu aval e nem se quer fui informado sobre a escolha de Venâncio Mondlane como cabeça de lista", afirma.
Para o deputado, "é uma incongruência total e completa" ser apresentado como cabeça de lista, depois de ter visto rejeitados todos os seus posicionamentos políticos e sociais "em relação aos Mercedes e aos vários aspetos relativos à democracia interna do partido".
"A comissão política do partido retirou-me a confiança política", sublinha.
Falta de democracia interna
Ainda na última semana, outro destacado membro da segunda maior força da oposição anunciou publicamente a sua saída. António Frangoulis atirou a toalha ao chão e acusou o MDM de falta de democracia interna. "O que me faz abandonar o MDM foi ter concluído que de MDM, Movimento Democrático, apenas tem o nome e não faz jus a ele", acusa.
Em entrevista à DW, Frangoulis explica que o último congresso do partido contribuiu para a desmotivação: "Havia uma espécie de pressão para se introduzir verdadeiramente o princípio democrático, que é o princípio do sufrágio para a indicação dos órgãos deliberativos e seus titulares, o que foi rejeitado com o argumento de que o partido tinha apenas nove anos e não era altura".
Uma cabala contra o MDM?
Tanto Mondlane como Frangoulis deixam claro que os descontentamentos estão relacionados com a direção do MDM e não com o partido em si. E igualmente esclarecem que os pontos discordantes não são de hoje e que a posição pouco flexível do partido no II Congresso foi a gota de água.
Entretanto, as eleições autárquicas estão à porta. Será que os anúncios destes altos quadros do MDM nesta época eleitoral não passam de coincidência ou foram propositados para debilitar ainda mais a imagem do partido?
"Não vejo necessariamente como uma cabala montada por outras forças para destruir o MDM", responde Silvestre Baessa.
O analista destaca o contexto atual, "em que a RENAMO aparece como uma grande força política impulsionada pelos resultados de Nampula, não se sabe até que ponto a morte do seu líder irá afetar a sua capacidade de concorrer e de convencer o eleitorado para as próximas eleições autárquicas. Estando a RENAMO interessada também em concorrer com candidatos fortes, é natural que essas figuras que têm um compromisso político muito à frente numa provável ideologia não sintam esse acolhimento e abandonem".
Risco de derrocada
A crise entre o MDM e o edil de Nampula foi o grande marco público do começo de uma crise no partido. O assassinato do edil Mahamudo Amurane, bem como a perda deste município para a RENAMO, maior partido da oposição, nas intercalares de fevereiro, contribuíram para debilitar ainda mais a imagem do partido.
Os posicionamentos contundentes de Mondlane e Frangoulis evidenciam que a crise só piora. Sobre os riscos de uma eventual derrocada do MDM o especialista em boa governação Silvestre Baessa não tem dúvidas: "Há efetivamente [esse risco]. A força do MDM era a governação local, os governos locais. Com os problemas de Nampula e de Quelimane e a possibilidade de a RENAMO poder conquistar e manter o controlo de Nampula, conquistar Quelimane ou mesmo a cidade da Beira, porque há um nível de descontentamento muito elevado, é de se esperar que o partido possa desaparecer ou enfraquecer ainda mais a sua posição política neste momento".
Convidado a reagir às posições de Mondlane e Frangoulis, tomando como especial destaque o contexto eleitoral, o MDM sublinha que não se sente fragilizado diante dos últimos acontecimentos.
"Não é pelo facto de morrer a andorinha que acaba a primavera. Portanto, o MDM continua firme, tem os seus objetivos que nortearam os jovens de 28 de agosto que culminou com a criação do MDM em 2009. Portanto, nada pode perturbar os objetivos dos jovens de 28 de agosto", diz Sande Carmona, porta-voz do partido.