Jornalistas precisam de mais preparação para temas sensíveis
21 de junho de 2017Em entrevista à DW África, no âmbito de uma visita destes profissionais moçambicanos à nossa redação, Jeremias Langa, jornalista da STV (Soico Televisão), um canal privado de televisão moçambicano, falou-nos sobre os pontos e painéis de discussão que considerou de maior relevo na conferência organizada pela Deutsche Welle (DW) e que terminou esta quarta-feira (21.06).
DW África: Quais foram os aspetos interessantes em termos de painéis e de figuras do Global Media Forum?
Jeremias Langa (JL): O tópico do próprio Fórum que é a questão da identidade e diversidade que é um tema atual no contexto que estamos a viver. Quando olhamos para questões de imigração no mundo ou para a ascensão de partidos de extrema direita, o tema assume uma importância cada vez mais relevante, sobretudo, para os jornalistas que são os veículos dos acontecimentos que se dão na sociedade. [É importante] para muni-los de uma ferramenta fundamental na análise, de modo que não seja um fator desagregador, portanto, instigador daquilo que pode suceder numa sociedade. É um tema importante por causa disso. Depois, houve alguns temas mais técnicos, nomeadamente, a questão do jornalismo mobile que é um contexto novo e inevitável para os media. Cada vez mais temos que enveredar por ele, portanto, há aqui um mix de temas mais genéricos e outros mais técnicos que, na minha opinião, geraram o equilíbrio necessário.
DW África: Qual a sua opinião sobre a abordagem que é feita, nos media em geral, a estas questões de identidade e diversidade?
(JL): Ainda existem grandes problemas e é por isso que eu digo que ainda bem que se discutiu este tema no contexto da Europa ocidental, portanto, do ocidente no global, não só a Europa, e mesmo no contexto dos nossos países. Há, digamos, um extremar de posições, uma visão ideológica e não jornalística daquilo que está a acontecer. Aliás, assisti a um debate em que o próprio debate em si mostrou mais ou menos esta configuração das opiniões, algum extremar de posições, alguma ausência de profissionalismo ou de preparação da parte dos jornalistas na abordagem de determinadas matérias e a sensibilidade com as questões de identidade que é muito grande. Daí a importância de um tema desta natureza para os jornalistas perceberem que mexer com a identidade de alguém é mexer com a auto-estima de uma comunidade e é uma coisa que parece trivial. [Lembro] um título que se discutia: "assassinada uma francesa e onze sírios”, por exemplo – são títulos chocantes no contexto de uma comunidade. Cada vez mais temos de ter sensibilidade para estas coisas para que não sejamos nós os instigadores destas situações. Uma maior preparação dos jornalistas na discussão destes assuntos é o caminho.
DW África: O que leva como exemplo para a sua realidade em Moçambique?
(JL): Recolher a experiência, partilhar com os colegas, em primeiro lugar, estas discussões temáticas e de diversidade. Falamos de identidade e diversidade, da sua importância e das questões que têm a ver com as mudanças paradigmáticas na nossa profissão com o grande fenómeno que representa a internet como uma plataforma, portanto, como é que nós, o chamado jornalismo mainstream, se adapta a este contexto de uma plataforma nova. Dentro do contexto da nossa situação, de um nível ainda baixo de penetração da internet, se calhar pode representar uma oportunidade, porque enquanto os outros encontraram a plataforma já pronta e tiveram que migrar para ela de imediato, nós temos a possibilidade de ir evoluindo com os consumidores dos nossos produtos, portanto, até nisso estamos numa situação privilegiada, mas temos de saber aproveitar essa posição.