Reuniões da RENAMO em todo o país para homenagear Dhlakama
4 de maio de 2018A reunião da Comissão Política da RENAMO visa entre outros pontos marcar a data do funeral de Afonso Dhlakama. Em Maputo o Conselho de Ministros reuniu-se também esta sexta-feira em sessão extraordinária na sequência da morte de Dhlakama. O Governo decidiu no encontro realizar um funeral oficial para Dhlakama, para além de adiar a deslocação do Chefe de Estado a Noruega e Finlândia. O Governo criou ainda uma comissão ministerial para prestar apoio e assistência à família de Dhlakama. O Conselho de Ministros apelou igualmente aos moçambicanos a calma e serenidade.
Entretanto, membros e simpatizantes da RENAMO juntaram-se esta sexta-feira (04.05) na sede nacional do partido e nas várias delegações espalhadas pelo país para prestarem homenagem ao malogrado.
Segundo o Chefe Nacional adjunto de mobilização do partido, Domingos Gundana "a principal mensagem neste momento é a estabilidade emocional dos nossos membros, a necessidade de estarmos todos juntos, e apelamos à sociedade para que acompanhe tranquilamente os passos seguintes".
Sucessão de Dhlakama?
Questionado pela DW África sobre a alegada imprevisibilidade na sucessão de Dhlakama, Gundana minimizou tais comentários.
"Isso é algo não questionável. É óbvio que o partido terá uma liderança".
O responsável da RENAMO desdramatiza, igualmente, as alegações segundo as quais a morte de Dhlakama poderá fragilizar o partido."Isso é algo que não se pensa, nunca existirá porque a RENAMO tinha um guia forte carismático que é o Presidente Dhlakama mas ele dirigia um povo e esta RENAMO vai-se organizar".
A morte do líder da RENAMO acontece num momento delicado em que ele vinha mantendo negociações diretas com o Presidente Filipe Nyusi sobre o processo de descentralização e de desmilitarização das forças residuais do maior partido da oposição em Moçambique.
Domingos Gundana afirma que estes dossiers estão totalmente encaminhados restando dar a sua continuidade.
"Ele deixou o dossier sobre a descentralização completamente feito, (tendo sido já submetido ao Parlamento) e o dossier sobre as questões militares também deixou completamente feito (encontrando-se em banho-maria enquanto se discutem as matérias sobre descentralização)".
Reações à morte continuam
Entretanto, as reações a morte de Afonso Dhlakama sucedem-se dentro e fora do país.A bancada parlamentar da FRELIMO, o partido no poder, destaca que Dhlakama estava a contribuir para o alcance de uma paz efetiva no país, e era uma referência na política moçambicana e não só.
"Desejamos que com as futuras lideranças que o partido tiver continuemos a consolidar a paz, a reconciliação e o abraço entre os moçambicanos para que este país viva eternamente em paz", diz Edmundo Galiza Matos Júnior, porta-voz da bancada.
Por seu turno, o deputado Armando Artur, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), descreve Dhlakama como uma figura incontornável na história da democracia moçambicana.
"É um homem que tudo fez, que lutou para que o país hoje fosse o que é... Um homem que abandonou o seu lar para se exilar em condições adversas".
União dos moçambicanosJá o académico e antigo negociador do processo de paz Lourenço do Rosário, apelou à calma e à união dos moçambicanos incluindo na escolha do sucessor de Dhlakama.
"Dentro da RENAMO sabemos também que nem todos estavam de acordo com aquilo que ele estava a fazer com o Presidente Nyusi porque achavam que ele era fraco, estava a vender-se, etc. Portanto, vamos ver como é que essas forças vão reagir daqui para a frente. Mas acredito que Moçambique perdeu com a morte dele, sobretudo tão perto do processo eleitoral".
Por seu turno, o embaixador da Suíça em Moçambique, Mirko Mazone, e presidente de grupo de contacto no diálogo político, considerou que a morte de Dhlakama deve constituir um momento de união entre os moçambicanos e permitir a conclusão do trabalho iniciado na busca de uma paz duradoura no país.
A União Europeia emitiu igualmente um comunicado em que incentiva o Governo e a RENAMO a continuarem com o seu compromisso firme e sustentado, para que seja rapidamente alcançado um acordo global para uma paz duradoura. Reafirma que continuará a apoiar Moçambique rumo à paz e prosperidade para todos os cidadãos.Enquanto isto, a embaixada dos Estados Unidos considera que Dhlakama provou a Moçambique, e ao mundo em geral, que estava empenhado em alcançar a democracia e uma paz duradoura em benefício de todos os cidadãos independentemente do partido político e encoraja o Governo e a RENAMO a honrarem o seu legado.
"Dedicou a vida ao seu país"
O Governo cabo-verdiano lamentou "profundamente" a morte de Afonso Dhlakama, destacando que desaparece um moçambicano que dedicou toda a sua vida à luta pelo desenvolvimento e pela paz em Moçambique. "Esperamos que, lá onde estiver, possa ver um Moçambique desenvolvido, de paz, pelo qual tanto lutou", disse o ministro de Estado e da Presidência do Conselho de Ministros.
Fernando Elísio Freire acrescentou ainda que o Governo espera que a morte do líder da RENAMO "tenha como um dos grandes resultados - que era um grande desejo e sonho dele - um Moçambique em tranquilidade e em paz".
Morte lança incerteza nas negociações de paz
Populares ouvidos pela agência de notícias Lusa em Maputo consideram que a morte do presidente da RENAMO lança incertezas nas negociações de paz em Moçambique e classificam o acontecimento como uma "grande perda para a democracia".
"Uma grande perda para o nosso xadrez político. Isto, sem dúvida, traz incertezas para as negociações de paz, que já estavam avançadas", declarou Anastácia Paulo, uma estudante universitária.Para Anastácia Paulo, o país precisará de anos para encontrar um líder carismático como Afonso Dhlakama, que sabia realmente sacrificar-se pelo seu povo. "Não acho que tenha sido perfeito, mas Dhlakama conseguiu ser a voz de um povo, por vezes vivendo em condições precárias pelo que acreditava", observou a estudante.
Adelino Machava, vendedor ambulante na baixa da cidade de Maputo, lembra um "líder nato" quando questionado sobre Dhlakama, considerando que "a política moçambicana está de luto".
"Dhlakama foi o 'rebelde' que este país precisava. Um senhor que conhecia as dores do povo. Com a sua morte, tenho medo de ver o país a voltar para guerra", observou Adelino Machava.
Albertina Magaia, vendedora no mercado central de Maputo, entende que o "país perdeu um pai", considerando que a RENAMO terá de escolher com cuidado o sucessor de Dhlakama.
"Eu não sou da RENAMO, mas fiquei sensibilizada quando vi na televisão que morreu Dhlakama", observou a vendedora, concluindo que o legado do líder da RENAMO deve ser respeitado e a melhor forma é garantir que realmente haja paz no país.