Militares golpeiam o presidente Touré e tomam o poder no Mali
22 de março de 2012Depois de horas de combate com a guarda presidencial, o presidente Amadou Toumani Touré foi afastado do poder imediatamente ocupado por militares.
Nesta quinta-feira, o porta-voz dos soldados amotinados, tenente Amadou Konaré, justificou que o "incompetente regime" foi deposto, porque é "incapaz" de lidar com a rebelião em curso no norte do país.
Mais cedo, os soldados atacaram o palácio presidencial que estaria agora sob o controle dos militares. Foi anunciada a dissolução de "todas as instituições" do país e a revogação da Constituição.
O capitão Haya Sanogo, apresentado como líder dos soldados amotinados, declarou estar imposto um toque de recolher. Os golpistas se apresentaram como Comité Nacional para a Construção da Democracia e a Restauração do Estado.
Situação do presidente
O presidente deposto do Mali, Amadou Toumani Touré, está num campo militar, em Bamako, rodeado de soldados leais da sua guarda presidencial, indicaram fontes citadas pela agência AFP.
Segundo testemunhas, ainda se podem ouvir tiros. Todos os voos de e para o Mali foram cancelados e as fronteiras estão fechadas.
Motivação dos militares
O Mali, antiga colónia francesa, enfrenta desde janeiro deste ano ataques do Movimento Nacional para a Libertação de Azawad (MNLA) e de outros rebeldes tuaregues, entre os quais homens que combateram a favor do regime de Muammar Kadhafi, na Líbia.
O governo acusou a Al-Qaida no Magrebe islâmico (Aqmi) de combater ao lado do MNLA. O conflito foi apresentado pelos soldados amotinados como sendo a razão para o golpe militar.
O presidente Touré é um ex-soldado que liderou a expulsão do então presidente Moussa Traoré, em 1991, antes de entregar o poder à população civil. Em 2002, ele venceu as eleições e foi reeleito em 2007. Segundo analistas, o golpe pode ter sido inspirado neste passado do próprio Touré.
Preocupação internacional
O golpe militar de Estado no Mali tem sido repudiado pela comunidade internacional. A França suspendeu a cooperação com o país, mas vai manter algumas ajudas à população. Pela manhã desta quinta-feira (22.03), o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Alain Juppé, condenou o golpe militar apelando "ao restabelecimento da ordem constitucional, a eleições, que sejam agendadas para abril, que sejam realizadas o mais depressa possível para que o povo do Mali se possa exprimir".
A União Européia reagiu negativamente à ação dos militares. "Condenamos a tomada de poder pelos militares e a suspensão da Constituição", afirmou Michael Mann, porta-voz da UE. Mann acrescentou ainda que "o poder constitucional deve ser restabelecido assim que possível" e apelou à preservação da segurança e liberdade dos habitantes do país.
Washington demandou "a imediata restauração do poder constitucional".
O ministro sul-africano dos Negócios Estrangeiros, Deputado Ebrahim Ebrahim pediu a imediata libertação dos líderes políticos pelos soldados amotinados. Ele pediu ainda o fim imediato das hostilidades. "É nosso desejo que o motim seja endereçado de uma forma que não coloque em risco a situação geral da segurança no Mali" declarou.
O Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, disse estar "profundamente preocupado". Segundo um porta-voz, ele clamou "por calma e para que as diferenças sejam resolvidas pacificamente e por meio do processo democrático".
A União Africana, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e a Argélia também condenaram o golpe de Estado, que matou pelo menos 50 membros da guarda presidencial, segundo fontes da proteção civil.
Está prevista a realização de eleições presidenciais no Mali, em 29 de abril próximo.
Autor: Cris Vieira (com agências AFP/Lusa/DPA)
Edição: Renate Krieger / Cristina Krippahl