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"A governação de JLO entrará para a história como um fiasco"

António Cascais
22 de setembro de 2022

Em entrevista à DW África, Pedro Santa Maria, jornalista, analista político e membro do MISA Angola, destaca a derrota do MPLA no "coração" político do país e frisa que o elenco não muda, está na "dança das cadeiras".

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Angola | Präsident Joao Lourenco MPLA
Foto: Stringer/REUTERS

Depois de o Presidente angolano, João Lourenço, ter indicado 23 personalidades para integrar o Conselho da República, incluindo líderes políticos e religiosos, empresários e jornalistas, os analistas políticos questionam se o Presidente - nas suas escolhas - não se terá baseado na teoria do mais próximo". O jornalista Rafael Marques - num artigo publicado no seu portal Maka Angola - acusa João Lourenço de "arrogância e teimosia", referindo-se ao Governo, que classifica como "igual ao anterior".

Por sua vez,  Pedro Santa Maria, jornalista e membro do MISA Angola, em entrevista à DW África, afirma que o Presidente João Lourenço escolheu para o novo Conselho da República essencialmente "pessoas ligadas ao MPLA e alinhadas com o MPLA".

Angola | Präsident Joao Lourenco MPLA
João Lourenço, Presidente da República de AngolaFoto: Siphiwe Sibeko/REUTERS

Quanto às escolhas do Presidente da República para as pastas ministeriais e para governadores das províncias, Pedro Santa Maria concorda com Rafael Marques, afirmando que se trata de "um governo que se mantém igual ao anterior" e que "João Lourenço não teve em conta a vontade de mudança, expressa nas últimas eleições pelo povo angolano".

DW África: O que sobressai, olhando para as 23 personalidades indicadas por João Lourenço para integrar o Conselho da República?

Pedro Santa Maria: Continuamos no mesmo. Aqui na República de Angola, o percurso percorrido tem sido o mesmo. O Presidente tem a prerrogativa de convidar para o Conselho da República as entidades que entende e o critério tem sido o da proximidade. Quanto mais próximo do partido no poder, melhor.

DW África: Com a exceção dos presidentes dos partidos com assento parlamentar, as personalidades indicadas por João Lourenço são, na sua maioria, ligadas ao MPLA…

PSM: Ligadas ou até mesmo alinhadas com o MPLA. Acho que é o termo mais assertivo.

DW África: No que toca ao Governo e governadores de províncias, pode-se dizer que tudo se mantém igual ao mandato anterior?

PSM: Os governadores andam na dança de cadeiras. Estão numa província e vão passando para outra. Acontece o mesmo com os ministros. Salvo o antigo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, que passou para o Conselho da República, os restantes membros foram passados para outros cargos, ministérios e províncias. O elenco permanece o mesmo.

Angola Wahl 2022
Campanha do MPLA durante a corrida eleitoral de 2022Foto: Miguel Pereira/REUTERS

DW África: É legitimo criticar João Lourenço dizendo que não teve em conta a vontade de mudança do povo?

PSM: A vontade do povo ficou clara. João Lourenço e o MPLA perderam Luanda, Cabinda e o Zaire, as principais praças políticas. Luanda, o centro do poder, e Cabinda e Zaire, as províncias que mais contribuem para o PIB de Angola. É um sinal claro de que muitos angolanos não estão com João Lourenço, nem com o MPLA. Se quisermos pensar num Governo representativo da vontade política dos angolanos, estou convencido que não foi desta.

DW África: João loureço está no início do segundo mandato. Acredita que poderá conquistar a confiança do povo ou já perdeu o comboio? Como é que ficará para a história?

PSM: A governação de João Lourenço entrará para a história como um fiasco. Começou o primeiro mandato com a bandeira do combate à corrupção. A meio do caminho, perdeu-se. Hoje, a própria aceitação baixou muito e não creio que, após as nomeações para o Executivo e para as províncias, venha mudar alguma coisa.

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