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Ataque em Macomia obriga população a refugiar-se no mato

ac | nn | com agências
10 de maio de 2024

Macomia, em Cabo Delgado, foi palco de um tiroteio esta madrugada, envolvendo homens armados e forças de segurança. Registou-se pelo menos uma detenção e não são conhecidas vítimas mortais até ao momento.

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Patrulha na estrada nacional 380 em Macomia em maio de 2023
Patrulha na estrada nacional 380 em Macomia (Foto de arquivo)Foto: Delfim Anacleto/DW

Em declarações à DW, Abudo Gafuro, membro da associação Kuendeleya, uma organização que trabalha junto das comunidades que sentem na pele o terrorismo na província de Cabo Delgado, disse que a população estava em "pânico" na sequência do ataque desta madrugada (10.05).

"A população está em pânico, porque os terroristas usaram uma tática de fechar as vias de acesso para a Macomia sede", frisou. "Ninguém tem acesso para quem vem de Pemba, Muidumbe, Nangade ou Mocímboa da Praia. Os terroristas estão nas extremidades de entrada e saída", acrescentou. 

"O maior número da população de Macomia está nas matas à procura de como escapar destes ataques", disse ainda. 

"Os terroristas ontem [09.05] infiltraram-se na vila sede [de Macomia] após terem a informação de que a força da SAMIM [Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique] já tinha abandonado o quartel deles. Hoje eles abriram fogo contra a posição militar das Forças Armadas de Defesa e Segurança (FADS) de surpresa e acabaram por capturar uma das bases militares e até às 14h00 de hoje [hora local] ainda havia troca de tiros", descreveu o ativista. 

"Ninguém tem acesso à vida sede. Em todas as entradas da vila sede a população está sob pressão. Várias centenas de crianças estão nas matas a pedir água", alertou. 

Presidente confirma ataque

O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, confirmou esta sexta-feira (10.05) o ataque terrorista à sede distrital de Macomia, em Cabo Delgado, norte do país, garantindo que o mesmo está a ser combatido pelas FADS.

"Os terroristas, por volta das 04h00 [hora local], estavam a entrar em Macomia [...]. Apanharam uma resistência muito forte, durou quase 45 minutos com os meus jovens [militares das FADS]. E esses é que são os que me dão coragem", descreveu, ao intervir numa cerimónia pública em Maputo, esta manhã.

"Resistiram 45 minutos e eles retiraram-se. Acho que organizaram-se mais um bocadinho, 50 minutos depois voltaram", detalhou, acrescentando que pelo menos um atacante foi "capturado", armado e "a disparar".

Filipe Nyusi explicou igualmente que o ataque desta madrugada aconteceu numa zona que era controlada pelos militares da missão dos países da África austral, que está em retirada até julho.

Matas de Macomia
Populares relataram ter-se refugiado nas matas de Macomia em fuga ao tiroteio da madrugada desta sexta-feira (Foto de arquivo)Foto: DW

"É verdade que é uma zona ocupada pelos nossos irmãos que nos apoiam, em retirada. Mas os que estão no terreno são 100% os moçambicanos. Talvez possa haver um reforço [...]. Como estão de saída. Espero que consigamos organizar-nos melhor, porque o tempo de transição dá isso", reconheceu, enaltecendo a intervenção em curso dos militares moçambicanos. "Estão a responder positivamente. Já prevíamos", apontou.

Sem registo de mortos

Segundo relatos de populares, os tiroteios na sede distrital começaram de madrugada, com os rebeldes a aparecerem no centro da vila, vindos da estrada de Mucojo. "Não estamos bem, os terroristas estão a atacar, chegaram de madrugada e não sei ao certo se morreu ou não alguém", disse à Lusa uma fonte a partir de um esconderijo, em Macomia. 

As mesmas fontes indicaram que toda a vila sede distrital de Macomia foi tomada por mais de uma centena de insurgentes. "Estou a dizer que os disparos estão a acontecer em todo o lado, os terroristas ocuparam a vila toda e ainda não saíram, não sabemos se é desta vez que querem ocupar ou não", relatou a fonte. Esta informação não foi, no entanto, confirmada pelo Presidente Filipe Nyusi, que se limitou a dizer que as tropas no terreno estavam a "responder positivamente" à incursão armada.

Outros populares refugiaram-se nas matas. "Estamos no mato; estamos a correr, aqui há guerra", declarou ao jornal "Carta de Moçambique" um local. "Muitas pessoas estão no mato, a situação está má", acrescentou.

Ao início da manhã, algumas lojas de venda de produtos de primeira necessidade e carros de transporte de passageiros, bens e comércio foram abandonados pelos proprietários, devido ao medo. "Ninguém levou nada, tudo está abandonado", lamentou à Lusa um comerciante de roupa no centro de Macomia.

Destroços de um ataque terrorista em Macomia em abril de 2022
Macomia tem sido uma das vilas mais visadas nos ataques terroristas em Cabo Delgado (Foto de arquivo)Foto: DW

Novos ataques

A vila de Macomia situa-se na estrada Nacional 1 (N1), que faz a ligação aos distritos mais ao norte, casos de Muidumbe, Nangade, Mueda, Mocimboa da Praia e Palma, pelo que este ataque interrompe igualmente a comunicação por terra aos cinco distritos. 

A província enfrenta desde outubro de 2017 uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico. 

Depois de vários meses de relativa acalmia, desde o início do ano que novas movimentações e ataques de rebeldes voltaram a causar milhares de deslocados, mortes, destruição de casas e edifícios públicos.

Notícia atualizada às 17h04.

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