Ataque em Macomia obriga população a refugiar-se no mato
10 de maio de 2024Em declarações à DW, Abudo Gafuro, membro da associação Kuendeleya, uma organização que trabalha junto das comunidades que sentem na pele o terrorismo na província de Cabo Delgado, disse que a população estava em "pânico" na sequência do ataque desta madrugada (10.05).
"A população está em pânico, porque os terroristas usaram uma tática de fechar as vias de acesso para a Macomia sede", frisou. "Ninguém tem acesso para quem vem de Pemba, Muidumbe, Nangade ou Mocímboa da Praia. Os terroristas estão nas extremidades de entrada e saída", acrescentou.
"O maior número da população de Macomia está nas matas à procura de como escapar destes ataques", disse ainda.
"Os terroristas ontem [09.05] infiltraram-se na vila sede [de Macomia] após terem a informação de que a força da SAMIM [Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique] já tinha abandonado o quartel deles. Hoje eles abriram fogo contra a posição militar das Forças Armadas de Defesa e Segurança (FADS) de surpresa e acabaram por capturar uma das bases militares e até às 14h00 de hoje [hora local] ainda havia troca de tiros", descreveu o ativista.
"Ninguém tem acesso à vida sede. Em todas as entradas da vila sede a população está sob pressão. Várias centenas de crianças estão nas matas a pedir água", alertou.
Presidente confirma ataque
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, confirmou esta sexta-feira (10.05) o ataque terrorista à sede distrital de Macomia, em Cabo Delgado, norte do país, garantindo que o mesmo está a ser combatido pelas FADS.
"Os terroristas, por volta das 04h00 [hora local], estavam a entrar em Macomia [...]. Apanharam uma resistência muito forte, durou quase 45 minutos com os meus jovens [militares das FADS]. E esses é que são os que me dão coragem", descreveu, ao intervir numa cerimónia pública em Maputo, esta manhã.
"Resistiram 45 minutos e eles retiraram-se. Acho que organizaram-se mais um bocadinho, 50 minutos depois voltaram", detalhou, acrescentando que pelo menos um atacante foi "capturado", armado e "a disparar".
Filipe Nyusi explicou igualmente que o ataque desta madrugada aconteceu numa zona que era controlada pelos militares da missão dos países da África austral, que está em retirada até julho.
"É verdade que é uma zona ocupada pelos nossos irmãos que nos apoiam, em retirada. Mas os que estão no terreno são 100% os moçambicanos. Talvez possa haver um reforço [...]. Como estão de saída. Espero que consigamos organizar-nos melhor, porque o tempo de transição dá isso", reconheceu, enaltecendo a intervenção em curso dos militares moçambicanos. "Estão a responder positivamente. Já prevíamos", apontou.
Sem registo de mortos
Segundo relatos de populares, os tiroteios na sede distrital começaram de madrugada, com os rebeldes a aparecerem no centro da vila, vindos da estrada de Mucojo. "Não estamos bem, os terroristas estão a atacar, chegaram de madrugada e não sei ao certo se morreu ou não alguém", disse à Lusa uma fonte a partir de um esconderijo, em Macomia.
As mesmas fontes indicaram que toda a vila sede distrital de Macomia foi tomada por mais de uma centena de insurgentes. "Estou a dizer que os disparos estão a acontecer em todo o lado, os terroristas ocuparam a vila toda e ainda não saíram, não sabemos se é desta vez que querem ocupar ou não", relatou a fonte. Esta informação não foi, no entanto, confirmada pelo Presidente Filipe Nyusi, que se limitou a dizer que as tropas no terreno estavam a "responder positivamente" à incursão armada.
Outros populares refugiaram-se nas matas. "Estamos no mato; estamos a correr, aqui há guerra", declarou ao jornal "Carta de Moçambique" um local. "Muitas pessoas estão no mato, a situação está má", acrescentou.
Ao início da manhã, algumas lojas de venda de produtos de primeira necessidade e carros de transporte de passageiros, bens e comércio foram abandonados pelos proprietários, devido ao medo. "Ninguém levou nada, tudo está abandonado", lamentou à Lusa um comerciante de roupa no centro de Macomia.
Novos ataques
A vila de Macomia situa-se na estrada Nacional 1 (N1), que faz a ligação aos distritos mais ao norte, casos de Muidumbe, Nangade, Mueda, Mocimboa da Praia e Palma, pelo que este ataque interrompe igualmente a comunicação por terra aos cinco distritos.
A província enfrenta desde outubro de 2017 uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.
Depois de vários meses de relativa acalmia, desde o início do ano que novas movimentações e ataques de rebeldes voltaram a causar milhares de deslocados, mortes, destruição de casas e edifícios públicos.
Notícia atualizada às 17h04.