Tete: Falta de medicamentos nos hospitais preocupa população
16 de junho de 2022A população e a sociedade civil na província de Tete, centro de Moçambique, estão preocupadas com a fraca disponibilização de fármacos aos doentes nos hospitais públicos.
Segundo alguns cidadãos entrevistados pela DW, que preferiram manter o anonimato por motivos de segurança, a situação agravou-se nos últimos tempos. Quando se dirigem aos hospitais, a maior parte da medicação necessária é dada como inexistente.
"Agora o hospital tornou-se como um negócio. Se alguém está mal, morre aí mesmo, sem ajuda”, lamenta um dos ouvidos.
Nos mesmos hospitais, é recomendado aos pacientes que se dirijam a farmácias privadas, onde por diversas vezes foram encontrados medicamentos desviados dos hospitais públicos.
"Dizem-nos 'está aqui a receita' sabendo que não existe nenhum medicamento lá. Então, porque é que dão a receita e nos dirigem diretamente à farmácia ‘X'? Suspeita-se que têm uma coordenação ou uma conexão com a tal farmácia", aponta outro cidadão.
Populção indignada
A população diz-se indignada e tem estado a descartar os serviços públicos para aderir aos privados devido a este problema, mas entretanto pede uma solução.
″Por isso, muita gente hoje em dia não vai ao hospital. Até pode sentir muita dor, mas vai a uma farmácia privada, compra comprimidos e toma em casa. E por isso também muita gente morre em casa, porque quando vai ao hospital não há um bom atendimento″.
O ativista Isaías Dos Anjos, da associação Galamukani, uma organização da sociedade civil que, entre outras áreas, atua no ramo da Saúde, fala dos perigos que este problema pode causar.
"É um problema de saúde pública e é pertinente e urgente intervir-se nisso. É necessário que se encontrem medidas porque os problemas são vários e podem ser crónicos para a população de baixa renda que recorre aos mercados informais", explica.
Esquemas de desvios de fármacos
Uma fonte, que também preferiu o anonimato, relata um drama particular das mulheres em hospitais públicos.
"Uma mulher em Moçambique não pode dar à luz sem ter 'padrinho' nos hospitais. Então, sempre notamos um mau atendimento por parte da área da saúde", denuncia.
Regina André, diretora distrital da Saúde, Mulher e Ação Social da cidade de Tete, diz que o setor reconhece haver esquemas de desvios de fármacos para o privado ou informal.
"Temos feito um trabalho de identificação das fugas dos medicamentos. Há alguns casos até então a contas com a justiça. Este é o caminho para tentarmos eliminar estas fugas e vendas de medicamentos".
Recentemente, o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), em Tete, apreendeu uma elevada quantidade de medicamentos e confirmou que foram desviados de hospitais públicos para venda ilegal. Houve também detidos, que disseram que adquiriram os medicamentos em farmácias privadas.