Moçambique: Na fronteira com Malawi, kwacha supera o metical
14 de agosto de 2024Em várias zonas fronteiriças entre Moçambique e o Malawi, a moeda nacional, o metical, é pouco utilizada nas transações comerciais. A predominância do kwacha malawiano nas trocas comerciais tem gerado preocupações entre os residentes, que pedem intervenção do Governo para regularizar a situação.
Nos distritos de Morrumbala, Milange e Molumbo, no norte da província da Zambézia, é comum que os moçambicanos vivam anos sem ver um metical. Em algumas comunidades, há quem nunca tenha tido em mãos "um centavo" da moeda nacional, como relata o régulo da comunidade de Muzina, em Molumbo, Pressone Diquissone: "Esse metical, as pessoas não conhecem. Procuramos comprar produtos com comerciantes, mas eles negam. Não conhecem o metical, só conhecem o kwacha."
Recentemente, o governo local tentou restringir o uso do kwacha para incentivar a circulação do metical. No entanto, a medida provocou revolta na localidade de Corumana, levando à destruição de várias infraestruturas no distrito de Molumbo, forçando as autoridades a recuarem.
O economista Edson Sualige associa o uso do kwacha à falta de condições socioeconómicas nas regiões fronteiriças: "No Malawi, o governo oferece serviços como hospitais, que não existem em Moçambique. A população é obrigada a recorrer ao outro lado, onde a moeda de troca é o kwacha. [...] O metical não compra nada. A população precisa de roupa, comida e eletrodomésticos, que o Governo moçambicano não consegue disponibilizar nessas zonas."
Apesar das dificuldades, há quem insista na necessidade de uma intervenção governamental para promover o uso do metical. Nas localidades mais pequenas, a população desconhece a moeda moçambicana, enquanto nos postos administrativos e vilas, o metical e o kwacha circulam simultaneamente, resultando em perdas financeiras nos câmbios. Há também denúncias frequentes de burlas por parte de cambistas nas ruas e mercados.
"O Governo deve apoiar-nos para utilizarmos o metical. Somos obrigados a fazer câmbio e acabamos por ser burlados. Se as pessoas aceitassem, gostaríamos de usar o metical porque o kwacha prejudica-nos nos nossos negócios: compramos produtos em meticais e vendemos em kwacha… Aqui só se compra com kwacha, o metical está a ser rejeitado," lamenta um comerciante local.
O governador da província da Zambézia, Pio Matos, reconheceu, durante a inauguração de uma unidade sanitária no povoado de Muguliua, que o excesso de circulação da moeda malawiana é um problema complexo: "O que nós temos de fazer como Governo é continuar a educar as nossas populações para que usem o nosso dinheiro. Mas, como vizinhos que somos, será difícil evitar que as trocas comerciais se façam nas duas moedas."
Edson Sualige defende que é necessária uma reforma profunda para resolver o problema: "Temos de criar condições, escolas, acesso à saúde nas zonas fronteiriças… Isto ajudaria a reforçar o uso do metical e a delimitar o território nacional."