"Moçambique vai ter uma grande responsabilidade"
3 de janeiro de 2023Moçambique começa, a partir desta terça-feira (03.01), o seu mandato como membro não-permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e o combate contra o terrorismo está entre as prioridades do mandato, segundo fonte oficial.
"Vamos tratar muito do terrorismo", declarou o embaixador moçambicano nas Nações Unidas, Pedro Comissário, citado pelo órgão de comunicação oficial da organização, ONU News.
Em entrevista à DW África, o diretor de programas do Instituto Moçambicano para Democracia Multipartidária (IMD), Dércio Alfazema, afirma que o terrismo não deve ser, e provavelmente também não será, a única prioridade da diplomacia moçambicana, nos próximos dois anos, no conselho de segurança da ONU.
DW África: O combate ao terrorismo não será a única prioridade da diplomacia moçambicana?
Dércio Alfazema (DA): Bom, não devia ser e nem acredito que seja a única prioridade. É o assunto do momento. Preocupa Moçambique, preocupa a região e é uma preocupação que faz parte da agenda global. Nós sabemos que o terrorismo tende a crescer em vários pontos do continente, mas também em todos os países do mundo que estão expostos a essa ameaça. Mas temos outros desafios ligados a questões de mudanças climáticas, ligadas a questões de participação das mulheres na resolução de conflitos e na pacificação dos países.
DW África: O Conselho de Segurança das Nações Unidas tem cinco membros permanentes e dez membros não permanentes. Cabe a Moçambique, como país africano, também levar a esse grémio as preocupações africanas. Concorda?
DA: Da região, mas sobretudo as questões que têm a ver com as prioridades para a resolução de conflitos em África, porque Moçambique está a ocupar um assento de África. Agora, claramente que, em paralelo a isso, vai ser uma oportunidade para Moçambique estar exposto a uma agenda de diplomacia global. Vai estar em interação e a sofrer a pressão dos países mais poderosos que muitas das vezes até têm estado em posições divergentes. Moçambique vai ter aqui uma grande responsabilidade de continuar a fazer a sua diplomacia e manter as boas relações, mesmo também com os grupos em divergência.
DW África: Na questão do conflito da Rússia com a Ucrânia, Moçambique optou por ser um país neutro. Acha que Moçambique, nos próximos dois anos no Conselho de Segurança, sofrerá pressões devido a essa posição?
DA: Penso que essas pressões vão continuar a existir dentro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, porque nós sabemos que mesmo entre os países que estão lá, também existem, muitas vezes, posições divergentes. Isso poderá também sobrecarregar e exercer alguma pressão para que Moçambique apoie uma ou outra posição. Vai estar também exposto ao ‘lobby' internacional de outros países que não estejam representados, mas que queiram fazer passar da agenda.
DW África: A diplomacia moçambicana vai dar conta do recado? Vai conseguir resistir a todas essas pressões, nomeadamente no que diz respeito à posição de África e de Moçambique, em especial quanto à guerra da Rússia na Ucrânia?
DA: Até agora penso que a posição de Moçambique foi compreendida, foi entendida. Tanto é que mesmo dentro do contexto desse conflito, nós tivemos uma votação histórica para podermos entrar neste órgão. Eu penso que até agora a questão do conflito da Ucrânia e Rússia ainda não resvalou numa situação embaraçosa ou que colocasse o país numa situação desgastante.
DW África: Moçambique é tido como um país com uma diplomacia bastante eficaz e evoluída. Acha que o atual embaixador moçambicano nas Nações Unidas, Pedro Comissário, é a pessoa certa no lugar certo?
DA: Sem dúvida. É uma pessoa bastante experimentada e um dos diplomatas com maior experiência que temos no país. Já esteve em vários continentes, em vários países e antes mesmo de rumar para as Nações Unidas, esteve a ocupar o cargo de vice-ministro dos Negócios Estrangeiros. Então, em termos políticos, também tem um acesso direto tanto à ministra dos Negócios Estrangeiros como ao Presidente da República.