Morreu Nelson Mandela, o "Madiba"
5 de dezembro de 2013"Ele está agora a descansar (...). Ele está agora em paz", disse o Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, que comunicou o falecimento de Mandela durante uma intervenção televisiva na noite da quarta-feira, dia 5 de dezembro. "A nossa nação perdeu o maior dos seus filhos", declarou Zuma. Anunciou que Mandela terá um funeral de Estado e que a bandeira sul-africana estará a meia-haste a partir de sexta-feira e até às suas exéquias.
A vida de Mandela, o "Madiba"
Quando Nelson Mandela apareceu perante os seus apoiantes ao fim de um quarto de século de prisão, em 1990, repetiu as famosas palavras que já três décadas antes tinha proferido perante o juiz que o condenou: "Eu estou disposto a morrer pela minha convicção".
O seu pai, Gadla Henry Mandela, terá pressentido que o seu filho tinha um caráter irredutível quando lhe deu o nome de Rolihlahla à data do seu nascimento a 18 de julho de 1918. "Rolihlahla" significa na língua do povo Xhosa "aquele que quebra o galho", ou traduzindo não literalmente: "alguém que traz aborrecimentos". E que aborrecimentos o "Madiba", como todos no país, independentemente da cor de pele, lhe chamam, trouxe ao regime do apartheid!
Era ainda um jovem e Mandela já partia um ou outro galho. Depois de ter uma infância privilegiada como filho de um chefe tribal, chamou a atenção quando liderou um protesto estudantil. Mais tarde viria a fugir de um casamento arranjado, instalando-se na metrópole de Joanesburgo. Lá enveredou pelo caminho da política.
Em 1944 tornou-se membro do ANC, o Congresso Nacional Africano. Quatro anos mais tarde, em 1948, o Partido Nacional ascenderia ao poder e institucionalizaria, a partir daí, a separação de raças. Seguiram-se protestos de massas e campanhas de desobediência civil, nas quais Mandela desempenhou um papel importante.
Vida proibida
Em 1961, o ANC foi proibido. Aí, Mandela fundou o braço militar do partido a que lhe chamou "Umkhonto we Sizwe" – "Lança da Nação" em português – e ordenou, como comandante da organização clandestina, que se fizessem ataques de guerrilha contra instituições estatais.
Em 1962, saiu clandestinamente da África do Sul para recolher apoio financeiro e encontrar quem desse formação militar aos quadros do ANC. Quando regressou foi julgado pelo processo de Rivonia em 1963. E seguiu-se a detenção.
Mandela passaria os 27 anos seguintes na prisão de Robben Island. A partir de 1988 Mandela começou a ser preparado para a sua libertação. Ainda três anos antes tinha rejeitado uma amnistia em troca da renúncia da violência por parte do ANC.
Porém, só no início dos anos 90 as negociações secretas com as autoridades deram frutos, quando o então presidente Frederik Willem de Klerk disse no parlamento que "o governo tomou a decisão irrevogável de libertar o senhor Mandela".
A 11 de fevereiro de 1990, Nelson Mandela saiu em liberdade pela mão de Winnie, na altura ainda sua mulher.
Em 1993 ele e de Klerk são agraciados com o Prémio Nobel da Paz, um reconhecimento da importância dos dois homem no fim do apartheid.
O primeiro presidente negro da África do Sul
Depois da sua libertação, o "Martin Luther King" africano lutou pela abolição da segregação racial que terminou nas primeiras eleições livres do país em abril de 1994. A 10 de maio Mandela tomou posse como primeiro presidente negro da África do Sul.
Juntamente com o arcebispo da Cidade do Cabo, Desmond Tutu, Mandela avançou com a Comissão de Verdade e Reconciliação. O resultado foi alvo de fortes críticas, mas, apesar disso, Mandela mostrou-se satisfeito.
A luta contra a pobreza na África do Sul também manchou os seus resultados políticos. O slogan do ANC em 1994 de "uma vida melhor para todos" só se realizou para uma pequena elite negra. Corrupção, criminalidade e desemprego representam, ainda hoje, perigos para a nação.
Mandela como mediador internacional
Depois da sua despedida da política em 1999, o "Madiba" dedicou-se a tarefas sociais na sua fundação – estas sobretudo ligadas a crianças e seropositivos.
A nível internacional, Mandela atuou como mediador em conflitos como a guerra civil no Burundi e criticou publicamente a política dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha quanto à guerra no Iraque.
Em 2004, o Prémio Nobel da Paz conseguiu que o Campeonato de Mundo de Futebol se realizasse no seu país seis anos mais tarde.
A perda de um grande homem
Com a morte de Nelson Mandela, o mundo perde um grande defensor da liberdade humana e um grande estadista. O seu país natal, a África do Sul, perde ainda um exemplo de moral, mesmo que nos últimos tempos de vida, Mandela se tenha pronunciado poucas vezes sobre temas políticos.
Há quem tema mesmo que, depois da sua morte, o seu partido, o Congresso Nacional Africano, ANC, enverede pelo caminho de tantos movimentos de libertação de outros países africanos, nomeadamente o de abuso de poder.