Morrocos está no bom caminho, avaliam especialistas
11 de junho de 2012
O rei de Marrocos, Mohammed VI, reagiu depressa às contestações no norte de África, nomeadamente na Tunísia e no Egito. A 9 de março de 2011 anunciou uma reforma constitucional como resposta às manifestações no seu país.
Entretanto, esta reforma já foi aprovada e reforça os partidos e o Estado de direito em geral. Segundo Urich Storck, diretor da Fundação Friedrich Ebert, em Rabat, a capital marroquina, foi dado um primeiro passo, mas “o que ainda falta é o processo de implementação dessa Constituição. Agora é tarefa do governo fazer tudo o que for necessário para, ainda durante esta legislatura, as alterações serem vertidas em lei”.
O novo governo eleito no final de 2011 foi , pela primeira vez, um partido islâmico moderado. O PJD, Partido para a Justiça e Desenvolvimento pôde nomear o primeiro-ministro. No entanto, Storck não considera que Marrocos se tenha tornado com isso mais tradicional ou religioso.
O PJD foi eleito porque é um partido que ainda não está gasto e no qual os eleitores depositam confiança para resolver o problema do desemprego, particularmente entre os jovens, ou para fazer uma reforma da educação, algo que a coligação anterior não conseguiu.
Os eleitores marroquinos depositaram suas esperanças no programa eleitoral do PJD, que era focado em política social. Agora, cerca de seis meses depois, eles estão decepcionados, porque não existem resultados concretos.
Recentemente, em fevereiro, dezenas de milhares de pessoas participaram em manifestações anti-governamentais organizadas por sindicatos na maior cidade de Marrocos, Casablanca. Os manifestantes sentiam-se insatisfeitos com o governo, acusando-o de não cumprir as reformas prometidas e de não melhorar as condições de trabalho.
Reformar paulatinamente é estratégia "inteligente"
A chamada Primavera Árabe na Tunísia e no Egito deram às reformas, iniciadas há anos em Marrocos, um novo impulso. Ao contrário dos tunisinos e dos egípcios, os marroquinos não se queriam ver livres de um ditador odiado. Os marroquinos, na grande maioria, gostam do seu rei, Mohammed VI, que também é visto como um garante da estabilidade.
De acordo com o politólogo Thomas Schiller, uma das principais razões para a “não-violência” é a abordagem evolutiva das reformas em Marrocos. O rei e seus conselheiros foram ao encontro do descontentamento popular, respondendo com reformas. Schiller considera que se trata de “uma abordagem muito inteligente e que assegura, a longo prazo, a posição da monarquia em Marrocos”.
Agora, segundo Thomas Schiller, é preciso que sucedam duas coisas: primeiro tornar as reformas constitucionais numa realidade; e em segundo lugar concretizar as reformas políticas que conduzam a uma melhoria da situação sócio-económica da população.
Como noutros países árabes, os jovens em Marrocos têm poucas ou nenhumas perspectivas de terem uma vida decente com trabalho e casa própria. E, por isso, referem os especialistas, os primeiros passos políticos devem ser sustentados por reformas económicas. Estas precisam, no entanto, de algum tempo para surtir efeito, sobretudo porque o nepotismo e a corrupção minam o crescimento da já fraca economia.
A economia marroquina não produz excedentes que possam ser investidos em programas sociais. E é, por isso, importante prosseguir as abordagens políticas para colmatar o fosso entre ricos e pobres, áreas urbanas e rurais, que já existem mas "têm sido ineficazes e pensadas apenas a curto prazo”, segundo Ulrich Storck.
Apesar das dificuldades que terá pela frente, os analistas acreditam que Marrocos está pois no bom caminho.
Autores: Sabine Hartert-Mojdehi / Helena Ferro de Gouveia
Edição: Glória Sousa / António Rocha