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Morte de jornalista: "As pessoas já se habituaram a ataques"

14 de dezembro de 2023

A polícia moçambicana investiga a morte do jornalista João Chamusse, que se suspeita ter sido assassinado em Maputo. À DW, o diretor do jornal Carta de Moçambique lembra o historial de agressões a jornalistas no país.

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Imprensa em Moçambique
Foto: Madalena Sampaio/DW

Em Moçambique, o jornalista João Chamusse foi encontrado morto, esta manhã, na sua residência na Katembe, em Maputo. A imprensa moçambicana avançou que há suspeitas de assassinato, tendo em conta os sinais de agressão visíveis no corpo do editor de 59 anos. A polícia esteve no local e está agora a analisar as provas recolhidas. O comentador da TV Sucesso era conhecido pelas suas críticas ao Governo e à gestão dos processos eleitorais.

O Sindicato Nacional de Jornalistas e o MISA lamentaram a morte do comentador, tal como o Conselho Superior da Comunicação Social de Moçambique, que apelou às autoridades para uma investigação profunda para o esclarecimento do caso.

Em entrevista à DW África, o jornalista Marcelo Mosse diz que, a confirmar-se que houve um assassinato com motivações políticas, "não é desta forma que o regime vai calar as vozes incómodas".

DW África: O que se sabe até agora sobre o que aconteceu ao jornalista João Chamusse?

Marcelo Mosse (MM): O que se sabe é que ele foi encontrado morto na sua residência, na Katembe, do outro lado da Baía de Maputo, por volta das duas ou três da manhã. Quando a notícia começou a circular, nós apurámos que a polícia foi para casa dele fazer a perícia. Ao lado do corpo, terá sido encontrado um instrumento contundente, uma catana ou instrumento metálico – isto ainda não foi confirmado pela polícia.

Jornalista moçambicano Marcelo Mosse
"Há logo a tendência de emitir juízos de valor e apontar a responsabilidade para o poder político"Foto: privat

DW África: Tendo em conta os sinais de agressão no corpo do jornalista, a imprensa moçambicana avançou que há suspeitas de assassinato, mas a polícia ainda não se pronunciou sobre isto. O que se sabe mais?

MM: Não houve nenhuma comunicação oficial da polícia. Mas as narrativas nos média e nas redes sociais apontam para um alegado assassinato, sobretudo porque o corpo foi encontrado com escoriações e golpadas na cabeça. Se isso se confirmar, a outra questão que deverá ser colocada na investigação é se foi um roubo, se se deveu a desavenças pessoais ou se houve motivações políticas, porque o país vive um momento de muita turbulência emocional em função da [fraude eleitoral] nas eleições autárquicas.

Portanto, da parte da sociedade, há logo a tendência de emitir juízos de valor e apontar a responsabilidade para o poder político em vigor, a FRELIMO.

O João Chamusse era um crítico acérrimo deste regime há muito tempo, mesmo antes de assumir o papel de comentador na TV sucesso.

Moçambique: Liberdade de imprensa em perigo

DW África: Tem havido muitas reações a esta morte em Moçambique. Há quem diga que é mais uma tentativa para silenciar as vozes críticas. Concorda?

MM: As pessoas já se habituaram a ataques desta natureza em Moçambique, a assassinatos e agressões. Isso nunca silenciou ninguém. Portanto, não é por esta via que vão silenciar a opinião pública moçambicana, que é muito forte. É muito audível quando quer manifestar o seu desagrado em relação às tendências mais recentes de autocracia na forma como o partido FRELIMO gere o Estado. Mas não é por aí que o regime vai calar as vozes mais incómodas.

DW África: Mas o cenário atual para o jornalismo não é fácil.

MM: Para vários jovens jornalistas, este pode ser eventualmente um sinal desagradável, porque eles não têm ainda toda a experiência de enfrentarem a violência do regime, mas para outros jornalistas, isto é mais do mesmo.

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