Morte em hospital de Luanda: "Ministério da Saúde tem culpa"
20 de setembro de 2023Na manhã de terça-feira (19.09), um jovem de 24 anos perdeu a vida à porta do Hospital Américo Boavida, em Luanda. Seguranças e auxiliares de saúde do hospital ter-se-ão recusado a prestar-lhe assistência, alegando que a unidade estava apenas a receber pacientes transferidos de outras instalações de saúde.
Domingas Soma, familiar do jovem, conta que "pediram socorro nas urgências do hospital e que lhes foi dito que não o iriam atender".
A direção do hospital emitiu, entretanto, uma declaração admitindo negligência médica e informou que foi aberto um inquérito para investigar o caso. Mário Fernandes, diretor do Hospital Américo Boavida, explicou à imprensa que, "sem o cumprimento das regras mandatórias para o atendimento na urgência, um profissional que está em formação na unidade [de saúde] tomou por si só a iniciativa de não atender o paciente".
"O que se pretende é uma punição exemplar", adiantou Mário Fernandes.
Para já, o hospital anunciou a suspensão de uma equipa médica por alegada negligência. Entre os membros desta equipa, acrescentou o diretor, está o referido médico.
Sindicato condena declarações do diretor
Reagindo a estas declarações, o presidente do Sindicato dos Médicos Angolanos, Adriano Manuel, frisou esta manhã em entrevista à DW por WhatsApp que "não é justo que se condene um profissional em hasta pública, sem que ele seja ouvido".
"Foi criada uma comissão de inquérito para averiguar os acontecimentos, pelo que ainda não se chegou a qualquer conclusão. Quem deve ouvir o profissional? O colégio da especialidade, bem como a Ordem dos Médicos. Foi ouvido? Não. O professor Mário Fernandes quer demarcar-se da sua responsabilidade enquanto gestor", assinalou Adriano Manuel.
Para o líder sindical, o Ministério da Saúde também tem culpa neste caso, pela falta de condições no sistema de saúde primária e secundária.
"O Ministério devia criar condições, tanto do ponto de vista de recursos humanos, como do ponto de vista de meios, nos hospitais e centros de saúde da periferia, para acudir as situações graves que acontecem nessas localidades. Se se tivessem criado as condições do sistema de saúde primário e secundário, de certeza absoluta que os doentes não chegariam com esta gravidade ao hospital", acrescentou o presidente do Sindicato dos Médicos Angolanos.
Partidos pedem responsabilização
O secretariado da Comissão Executiva do comité provincial de Luanda do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) lamentou o sucedido no Hospital Américo Boavida endereçou à família os seus pêsames "por essa dura perda", que "deixa a todos de luto".
Num comunicado, citado pela agência Lusa, o partido no poder diz ainda que espera que "sejam exemplarmente responsabilizados" os implicados na morte do cidadão.
O maior partido da oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), pediu a demissão da ministra da Saúde de Angola e do diretor do Hospital Américo Boavida, manifestando "repulsa" pela morte por "negligência médica".