"Mosquito do Zika não conhece fronteiras"
25 de abril de 2016
O Zika propagou-se, desde finais de 2014, no Brasil, onde foram identificados 1,5 milhões de infeções, via mosquitos Aedes aegypti. Três a quatro milhões de casos são esperados no continente americano.
Entretanto, também em sete países europeus já foram reportados vários casos de infeção e a Organização Mundial da Saúde (OMS) já declarou a epidemia como "emergência de saúde pública internacional".
O colóquio começou esta segunda-ferira (25.04), em Paris e tem a duração de dois dias. A OMS considerou que o número de casos de infeção com o vírus Zika pode aumentar de forma significativa na Europa.
"A possibilidade de uma transmissão local", com a chegada da época dos mosquitos à Europa, "combinada com prováveis transmissões por via sexual, poder-se-á traduzir num aumento significativo do número de pessoas infetadas pelo Zika e de complicações" médicas ligadas ao vírus, afirmou a assistente da diretora-geral da OMS, Marie-Paule Kieny, na conferência científica em Paris.Segundo a responsável, "duas espécies de mosquito Aedes, conhecidas por transmitir o vírus" Zika, vão começar a circular" na Europa, à medida que "as temperaturas começarem a subir". Marie-Paule Kieny frisou que "o mosquito não conhece fronteiras".
Vírus descoberto em 1947 no Uganda
O vírus do Zika, que continua presente na América do Sul e também em alguns países da África Ocidental, foi descoberto em 1947, num pequeno bosque, o bosque de Zika, junto ao lago Victória, no Uganda. No entanto, neste país africano não houve, até agora, ocorrência de epidemias de Zika. Pelo contrário, tudo indica que naquela região da África do Leste, as pessoas são imúnes contra o vírus.
A reportagem da DW foi ao bosque de Zika, perto da pequena cidade de Entebbe, no Uganda, para ver onde foi isolado pela primeira vez o vírus.
Zika é uma palavra luganda e significa "coberto" - e é isso precisamente o que se pode dizer deste bosque, com uma área de 25 hectares, completamente coberta de vegetação.
Em 1937 a área foi transformada num parque nacional e ali não existe apenas uma fauna e flora incomparável, como também alguns micróbios e também vírus relativamente perigosos, como explica Ester Kilabo, a filha do guarda florestal, de 15 anos de idade.
"Os funcionários do Instituto de pesquisas virológicas colocaram, aqui e acolá, recipientes com água. E é nessas águas que os mosquitos põem os seus ovos. Depois de uma semana já são bastante numerosos os ovos de mosquito que pode encontrar aqui. Existem muitas espécies de mosquito, como o Aedes ou o Anophles. Pessoalmente não tenho medo de nenhum deles: sempre existiram e nunca provocaram doenças nas pessoas que vivem nas imediações", esclareceu a adolescente.
Estudos sobre as doenças transmitidas por mosquitos
Na cidade de Entebbe, a poucos quilómetro de distância, vários especialistas em virologia tentam estudar as doenças transmitidas por mosquitos, algumas delas bastante perigosas, como o ébola, marburg, febre amarela ou o zika.
"Trabalhamos há muito tempo no bosque de Zika. O bosque é o local ideal para levarmos a cabo as nossas pesquisas. Há que dizer que o vírus do zika foi descoberto por alguns dos meus antecessores que estavam a tentar isolar o vírus da febre amarela em 1947. Acabaram no entanto por descobrir um vírus até então desconhecido, a que deram o nome de vírus do zika", explica o especialista Julius Lutwana.
Segundo o investigador, inicialmente não se registou qualquer infeção, sendo que a primeira análise de sangue que evidenciou esse vírus foi tirada em 1952 na Tanzânia. "Mais tarde tivémos registo também de algumas infeções em Antebbe e Kusubi, aqui perto. Depois, o vírus não voltou a incubar-se nesta região - nem em organismos humanos, nem em macacos ou em outras espécies", sublinhou o Julius Lutwama.
Há dez anos o vírus do zika surgiu de novo
Em 2007 houve uma epidemia na Micronésia, seguindo-se outro surto na Polinésia, e mais recentemente na América Latina.Lutwama diz que ficou assim provado que o vírus é capaz de se propagar um pouco por todo o mundo. Porque é que a infeção constitui um perigo menor no Uganda e um perigo maior noutras regiões do mundo, como o Brasil?
A resposta náo é óbvia, mas para especialista, no “Uganda existem vírus diferentes e há muito tempo e as pessoas foram-se adaptando ao longo dos séculos e desenvolveram uma certa imunidade".
Lutwama é muito solicitado e tem viajado entre o Uganda, os Estados Unidos e o Brasil com o objetivo de contribuir para uma possível solução que possa ajudar a combater o atual surto de zika.