Mostra de arte contemporânea de Moçambique em Ahlen
28 de junho de 2011Há vinte anos que a Universidade Popular da cidade alemã de Ahlen - a chamada “Volkshochschule”, um espaço de angariação de conhecimentos aberto a todos os cidadãos - se esforça por levar aos alemães toda a riqueza da cultura africana. Para além de seminários, workshops, espetáculos de música e dança e outras iniciativas, a edição de 2011 contou ainda com uma exposição de artistas contemporâneos de Moçambique.
Mesmo as "temperaturas africanas" de quase 40 graus centígrados não impediram o público de acorrer, numeroso, à inauguração, conta o diretor da Volkshochschule, Rudolf Blauth. Para ele, o interesse não constituiu surpresa, dada a qualidade das obras expostas. Uma mistura de artistas mais velhos e jovens "como, por exemplo, o Butcheca, que tematiza o contraste entre a cidade e o campo, o homem e a mulher. São obras modernas influenciadas pela arte ocidental”. Para Blauth, o público passou a conhecer um aspeto novo de Moçambique. “Não é apenas um país pobre em vias de desenvolvimento. É um país com artistas que podiam vingar no mundo inteiro se tivessem mais oportunidades para fazer exposições"
Oportunidades para expor são raras
Proporcionar essas oportunidades é o objetivo do banqueiro reformado Wolfgang Hahn. Um acaso conduziu-o a Moçambique há alguns anos. Num dia chuvoso entrou no museu de arte moderna e foi cativado pela riqueza da arte contemporânea do país. Começou a colecionar as peças que agora estão expostas em Ahlen. O contato com os pintores “que me contaram o quanto é difícil sobreviver como artista, apesar de participarem em numerosas exposições nos países lusófonos”, despertou em Hahn o desejo de ajudar, promovendo-os na Alemanha.
Um objetivo nada simples de alcançar num país que ainda não despertou para a arte contemporânea de África. O pintor moçambicano, Dito, que está na Alemanha a participar num “workshop” de artistas moçambicanos e alemães, e que tem obras suas na mostra de Ahlen, viveu alguns anos na extinta República Democrática da Alemanha. Já na altura, o seu trabalho deparou com alguma incompreensão: "Lembro-me que quando cheguei à RDA diziam ah, que cores horríveis, muito berrantes. Aquilo era o reflexo do que era a natureza africana, com muitas cores” Mas os problemas não acabaram quando regressou ao seu país: “Quando volto para a Maputo já trazia essa influência europeia. Então houve uma outra reação por parte dos artistas moçambicanos: ah, o Dito foi à Europa, foi à Alemanha, ele agora pinta escuro".
As circunstâncias melhoraram para os artistas moçambicanos
Em Moçambique, diz Dito, as circunstâncias são hoje mais favoráveis aos criativos. Ao contrário do que se poderia crer, avança, graças à recuperação económica, é até mais fácil vender a sua arte em Moçambique do que na Europa. Embora a Alemanha seja hoje mais aberta ao mundo do que nos tempos da RDA, a verdade é que é difícil para um artista africano impor-se neste país: "Eu penso que há menos concorrência em Maputo. Eu não posso calcular quantos artistas há em Berlim, Paris, ou Lisboa, mas é um número muito grande"
Para Rudolf Blauth, a concorrência não é o único problema dos artistas africanos na Alemanha. O diretor da Volkshochschule aponta o dedo aos responsáveis alemães. Na sua opinião, os diretores dos museus de arte não querem mostrar arte africana: “Acham que ela deve ser exposta em museus de antropologia. É de uma ignorância que brada aos céus. Se me perguntar, diria que o colonialismo ainda não desapareceu completamente das cabeças dos diretores dos museus".
Maputo deve esforçar-se por divulgar os seus artistas
Mas o colecionador Wofgang Hahn, salienta que a responsabilidade pela divulgação internacional dos artistas cabe também a Moçambique. Hahn recorda-se do número impressionante de amantes de arte de todo o mundo que veio prestar homenagem ao grande pintor Malangatana Valente, no seu enterro em Maputo em janeiro deste ano: "Espero que isso tenha servido para mostrar aos responsáveis moçambicanos que a arte pode ser um fantástico embaixador para um país relativamente pobre e pouco industrializado, para se tornar mais conhecido no mundo".
Autora: Cristina Krippahl
Edição: António Rocha