Moçambicanos mobilizam-se contra a crise
2 de maio de 2016As ruas de Maputo foram preenchidas por vários grupos de trabalhadores que gritavam palavras de ordem como “Comeste o dinheiro, vamos ajudar-te a pagar”, na marcha do Primeiro de Maio.
Os populares ostentavam cartazes que diziam "Dormi pobre e sem dívida e acordei pobre e altamente endividado”; “Nunca devi a ninguém e agora devo a todo o mundo” e “A dívida é nossa, não vimos o dinheiro”.
A Organização dos Trabalhadores de Moçambique (OTM central Sindical) não escondeu a sua indignação em relação à dívida do país que ascende, neste momento, a mais de 11 mil milhões de dólares.
Alexandre Munguambe, é secretário-geral da OTM e critica o facto do país se debater com o problema da dívida externa contraída em termos não transparentes. "Nós, trabalhadores moçambicanos, não queremos pagar a fatura da dívida comercial contraída por empresas. As empresas devedoras devem ser operacionalizadas e rentabilizadas para assumirem o seu pagamento integral”, acrescenta.
Governo reconheceu ter emitido garantias para empréstimos
Nas últimas semanas, Governo moçambicano reconheceu ter emitido garantias para empréstimos contraídos em 2013 e 2014 pelas empresas EMATUM, Proíndicus, e Moçambique Asset Management, num valor superior a mil milhões de dólares.
Na sequência da descoberta desses empréstimos escondidos, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e mais recentemente a Grã-Bretanha, anunciaram a suspensão de ajudas a Moçambique, enquanto o assunto não estiver completamente esclarecido.
Sindicatos pedem esclarecimentos
Os Sindicatos encorajam o Governo a continuar a prestar esclarecimentos sobre a dívida e ainda a envidar esforços com vista a restauração da confiança dentro do país e junto dos parceiros internacionais.
A DW África ouviu alguns dos manifestantes que empunhavam dísticos protestando contra a atual dívida publica do país.
Nzira de Deus, do Fórum Mulher acredita que "a dívida pública vai impactar negativamente o país, principalmente nos grupos mais vulneráveis, como mulheres e raparigas". A ativista teme que as escolas deixem de ser construídas, que professores percam o seu emprego e que as maternidades não sejam construídas. "A nossa vinda aqui é para defender os interesses de todos os cidadãos, principalmente as mulheres, e questionar onde está a responsabilidade de quem contraiu a dívida e porque é que foi contraída. Até hoje, a dívida não tem rosto e então estamos à procura do rosto da dívida externa", reforça Nzira de Deus.
Fernando Menete, da rede Ruth Uthende garante que todos os participantes do evento estão a ser consciencializados para o impacto da dívida no dia a dia."Já estamos a sentir, o custo de vida aumentou. Como uma organização, um dos nossos principais focos é a área dos transportes e mobilidade urbana, pois estamos preocupados, visto que este pode ser um dos setores com maior impacto”, explica.
Também Graça Samo, da Marcha Mundial das Mulheres, reconhece que neste contexto "o país está numa crise tremenda por causa da dívida que foi contraída pelos governantes". "Nós viemos aqui para dizer que queremos justiça, queremos que as pessoas responsáveis por esse endividamento do país sejam levadas à barra da justiça e que sejam tomadas as medidas necessárias para que o país possa recuperar a sua economia. Não queremos que o FMI e o Banco Mundial venham tomar as nossas indústrias, a nossa terra e que imponham políticas que condicionem os processos de desenvolvimento do nosso país”, teme Graça Samo.
Na última sexta-feira (29.04), a Procuradoria Geral da República anunciou que decidiu instruir processos para averiguar a legalidade dos procedimentos em torno da dívida externa ligadas às empresas EMATUM, Proíndicus e Moçambique Asset Management.
Um comunicado de imprensa daquela instituição dá conta que os processos correm na Procuradoria Geral da República estando em curso a recolha e análise de elementos para a tomada de medidas apropriadas nos termos da lei.