"A RENAMO não está fragilizada", garante Ossufo Momade
1 de setembro de 2020Em Moçambique, tentativas de pôr fim às ações armadas da Junta Militar dissidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) no centro do país têm fracassado. Tal como pilatos, o maior partido da oposição parace ter lavado as mãos para o caso. É que o seu líder, Ossufo Momade, em jeito de resignação, diz que o partido já fez de tudo, mas em vão. Em paralelo, politicamente, a RENAMO dá sinais de estar a sucumbir.
Alguns analistas defendem que o partido RENAMO esteja dividido e fragilizado. A DW África entrevistou Ossufo Momade para saber a atual situação do partido.
DW África: Há politólogos que acreditam que a RENAMO esteja dividida, falam em cisão e fragilização do partido. Isso leva-nos a questionar: como vai o partido RENAMO?
Ossufo Momade (OM): Não estamos contra a observação ou a análise das pessoas. Mas dentro [do partido] não temos o sentimento de que a RENAMO esteja dividida, ou fragilizada. Isso porque sentimos que tudo o que nós planeamos está a acontecer. As nossas atividades estão a acontecer. E ainda temos o impacto popular. Se não fosse a situação de pandemia [da Covid-19] eu poderia sair daqui e ir até Sofala, e teria uma boa recepção. Poderia ir à Zambézia, e teria uma participação maior da população. Onde é que as pessoas buscam esta informação de que a RENAMO está dividida? O partido não está dividido e há uma coesão dentro dele. Nós continuamos a trabalhar e vamos surpreender em 2023.
DW África: O país também lida com outro problema preocupante: a Junta Militar, liderada pelo senhor Mariano Nhongo.Houve algum avanço, um diálogo, entre a RENAMO e a Junta Militar?
OM: Não houve. E não há um problema comigo. Só pode ter problema com o partido. Nhongo não foi expulso dentro do partido. Ele abandou a base onde estava por livre e espontânea vontade. Fez várias acusações mas essas são inúteis. Se recordarmos, logo que ele abandonou a base, terá dito que eu havia morto"Josefa" [Josefa Isaías de Sousa, militar da RENAMO] Mas nós criamos condições para que o Josefa pudesse aparecer e depois todos viram, acompanharam, o mesmo foi preso. Mais tarde, Nhongo disse que eu não tinha guarda-costas, porque já tinha sido retirado. Em outra ocasião, quando entrevistou-me, eu havia dito que estava satisfeito e livre com os meus guarda-costas. Ele também apareceu afirmou que o "Ossufo era um traidor e que não tinha por que votar no Ossufo" – isso foi no dia 14 de outubro de 2019. E também disse que eu "estava a vender votos". Ou seja, há contradições no que o senhor Nhongo aparece a dizer: hoje ele diz uma coisa, amanhã outra. Eu não posso seguir alguém que mantém um comportamento assim. Pergunto: alguma vez acompanhou Nhongo atacar um alvo militar? Em nenhum momento. Os alvos dele são civis – autocarros, camiões. Isso significa criar problemas para a população moçambicana. E já tentamos todas as maneiras mas nunca tivemos solução razoável. Não estamos contra o Nhongo e não o expulsamos [do partido]. Ele saiu. Abandonou a base por livre e espontânea vontade. Por isso, dizíamos que ele era desertor. Não temos outro nome para [designar] um militar que sai de uma base. É um desertor, apesar das opiniões de que ele não o seja. Mas, peguemos um dicionário de língua portuguesa: aquele que sai ilegalmente, ou seja, que abandona a base, é um desertor. Eu não tenho outra forma para chamá-lo. Já esquecemos dessa parte. Então, gostaríamos que ele voltasse à razão.