Alegado insurgente anuncia objetivo de impor lei islâmica
26 de março de 2020Um vídeo distribuído esta quinta-feira (26.03) pela internet em Moçambique mostra um alegado militante jihadista a justificar os ataques de grupos armados no norte do país. Na mensagem, a primeira já divulgada por alegados autores desde o início dos ataques em 2017, o atacante diz que o objetivo é impor uma lei islâmica na região.
O suposto atacante aparece no vídeo de uniforme militar e cara tapada a apelar à luta sob a bandeira do grupo extremista "Estado Islâmico". "Estamos a chamar, sempre, para [quem assiste à mensagem] vir aqui lutar sob esta bandeira (...), não queremos a bandeira da FRELIMO", afirmou em referência à Frente de Libertação de Moçambique, o partido no poder.
A gravação foi feita em pleno dia no muro da residência do administrador de Quissanga, na vila da província de Cabo Delgado, que foi invadida na quarta-feira (26.03). O local foi identificado à agência de notícias Lusa por um habitante da região ao ver o vídeo. Noutros momentos, o vídeo mostra ainda as ruas da vila desertas, com fumo e chamas.
Dois analistas ligados a empresas de segurança que acompanham a violência armada em Cabo Delgado disseram à Lusa aceitar a gravação como legítima, em linha com as fotografias divulgadas na quarta-feira pelo grupo armado junto a edifícios da vila.
Ataque em Quissanga
A invasão de Quissanga aconteceu 48 horas depois de homens armados terem ocupado Mocímboa da Praia, 120 quilómetros a norte, uma das principais zonas urbanas de Cabo Delgado. Os atacantes enfrentaram as forças de defesa e segurança moçambicanas provocando um número ainda indeterminado de baixas antes de saírem da povoação.
Residentes relataram ter encontrado corpos pelas ruas, além de vários edifícios incendiados, tais como bancos e representações do Estado. Não houve mais informações, nem sobre as vítimas nem sobre os prejuízos em Mocímboa da Praia.
As autoridades moçambicanas confirmaram o ataque a Mocímboa da Praia, mas ainda não se pronunciaram sobre a ocupação de Quissanga.
Bartolomeu Muibo, administrador de Quissanga, disse à Lusa, a partir de Pemba, que desconhece se a vila continua ocupada ou se há residentes que já tenham regressado, devido a dificuldades de comunicação.
Os ataques armados na província de Cabo Delgado já fizeram, pelo menos, 350 mortos. Mais de 155 mil pessoas foram afetadas com perda de bens ou obrigadas a abandonar casa e terras em busca de locais seguros.