Código de Conduta para jornalistas em revisão
8 de agosto de 2019Moçambique elege a 15 de outubro, pela sexta vez o Presidente da República, 250 deputados para o Parlamento, pela segunda vez na história, os membros das assembleias provinciais e pela primeira vez os governadores das províncias.
Para garantir uma melhor cobertura jornalística de todo o processo eleitoral, mais de 40 profissionais de diversos órgãos de comunicação social em Moçambique, discutiram no últimos dois dias (06/07.08) a revisão do Código de Conduta para a Cobertura Eleitoral.
O evento foi organizado pelo Instituto de Comunicação Social da África Austral - Moçambicano (MISA-Moçambique) em parceria com Instituto Eleitoral para a Democracia Sustentável em África (EISA) e o Sindicado Nacional de Jornalistas (SNJ).
O atual Código de Conduta para Cobertura Eleitoral foi adotado há 11 anos, pelo que há necessidade de adequá-lo ao contexto atual, conforme explicou à DW África, Eduardo Constantino, Secretário Nacional do Sindicato Nacional de Jornalistas Moçambicanos.
"Chegamos a conclusão de que apesar do Código ser atual, havia uma necessidade de introduzir algumas alterações no sentido de deixar mais claro o que se pretende, ou seja, uma cobertura eleitoral equilibrada".
O Sindicato Nacional de Jornalistas moçambicanos também está preocupado com graves atropelos à ética e deontologia professional, em períodos eleitorais, pelos jornalistas.
"Há ocasiões em que alguns jornalistas ao invés de se dedicarem apenas à cobertura, fazem um duplo papel. Cobrem os eventos e tornam-se atores políticos", denunciou Eduardo Constantino para quem "queremos que isso não volte a acontecer".
Eduardo Constantino reitera que todo cidadão é livre de se filiar a um partido político, mas para o caso dos jornalistas recomenda "o que tem a fazer é que quando chega o momento eleitoral ele deve optar: continuar na redação a fazer cobertura eleitoral com isenção e rigor ou suspender a sua atividade profissional e juntar-se ao seu partido político".
Rodrigues Tato é também jornalista moçambicano há décadas. Acredita que as dificuldades financeiras enfrentadas por muitas empresas do setor no país, estão na origem de inúmeras violações da ética e deontologia profissionais em épocas eleitorais.
"Muitos órgãos de comunicação social do nosso país não têm condições para que os seus jornalistas exerçam as suas atividades de forma livre", disse exemplificando que "veremos isso brevemente, jornalistas a serem transportados em viaturas dos políticos. O que se espera que um repórter na boleia de um político faça?", questiona Rodrigues Tato.
Tato recomenda "é preciso que se divulgue o Código de Conduta junto dos jornalistas. É preciso que o MISA, o SNJ e outros organismos que trabalham com a classe, como H2N e o Instituto para a Democracia Multipartidária façam isso".
O Sindicato Nacional de Jornalistas e o MISA também estão preocupados com as "fake news". Aliás, este é um tema que está a merecer muita atenção nos últimos tempos, não só em Moçambique.
Para Eduardo Constantino, é preciso que os jornalistas prestem muita atenção a este fenómeno.
"As fake news não devem servir de fonte de informação. Devem sim, servir de inspiração para uma investigação", apela Constantino, para quem brevemente, a instituição que dirige e o MISA-Moçambique vão capacitar jornalistas a nível nacional sobre estas matérias.