Moçambique: Crise económica compromete combate ao HIV/SIDA
19 de setembro de 2016A depreciação da moeda nacional moçambicana, o metical, poderá afetar a aquisição de antiretrovirais e comprometer os programas de combate ao HIV/SIDA em Moçambique. O alerta foi feito pelo Conselho Nacional de Combate ao SIDA, que diz que os recursos financeiros já são escassos. Moçambique está entre os 15 países mais afetados pela doença no mundo, com uma taxa de seroprevalência de 11%.
A responsável da área de planificação no Conselho Nacional de Combate ao Sida, Ema Chuva, afirma que os custos em antirretrovirais quase que duplicaram no país, como consequência da depreciação da moeda nacional, o metical.
Segundo Ema Chuva, esta depreciação da moeda poderá afetar os programas de combate ao HIV/SIDA em 35%, entre os anos de 2015 e 2019.
“Se nós precisávamos de 100 dólares para tratar uma pessoa durante um ano, provavelmente esses 100 dólares nos custariam 3 ou 4 mil meticais, mas hoje custam 7 mil. Logicamente que vai afetar”, explica a responsável da área de planificação.
Crise económica
A depreciação da moeda moçambicana, o metical, acentuou-se este ano na sequência da suspensão da ajuda dos parceiros internacionais, após a descoberta de dívidas escondidas avalizadas pelo Governo a favor de algumas empresas sem o aval do Parlamento.
Em 2016, a par da retirada da ajuda da comunidade internacional, estimada em 500 milhões de dólares, reduziu substancialmente o investimento direto estrangeiro que atingia três mil e 600 milhões de dólares.
Mas, o ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, considera que a atual taxa de câmbio no país resulta de “uma grande especulação” , causada por pessoas que querem ganhar dinheiro.
Segundo Maleiane, calculando a paridade do poder de compra, a atual taxa de câmbio devia situar-se, neste momento, em 55 ou 56 meticais o dólar contra os 76 meticais que estão a ser praticados.
O ministro afirma que o Governo e o Banco Central colocaram ou estão a colocar divisas no mercado para comprar bens essenciais como combustíveis e pão: “Para a lógica da oferta, esta situação da saída dos doadores está coberta e não devia ser preocupação. Nós estamos a sofrer uma pressão muito grande de especuladores”.
Programa de prevenção do HIV/SIDA
Os gastos com os programas de prevenção e combate ao HIV/SIDA em Moçambique ascenderam a 330 milhões de dólares em 2014. Este montante poderá registar um incremento, porque como explicou a responsável da área de planificação no Conselho Nacional de Combate ao Sida, Ema Chuva, será introduzida uma nova modalidade de combate a esta pandemia.
“O país vai iniciar agora uma estratégia que é: testou, (confirmou-se que) a pessoa é positiva, inicia-se automaticamente o tratamento. Isso vai de alguma forma empolar os custos. Vamos precisar de medicamentos para todos aqueles que são positivos”.
Dados oficiais estimam que pelo menos 800 mil pessoas se beneficiam, atualmente, do tratamento antiretroviral no país. As taxas de infecção estão a reduzir nas províncias do norte e a estabilizar no sul e centro, mas Ema Chuva chama atenção para a falta de recursos.
“Nós precisamos de recursos. Os recursos, neste momento, não são suficientes. Se nós não fizermos nada tanto nacional como internacionalmente vamos ter consequências que não serão agradáveis para nenhum de nós”, ressalta.
Fundo Global para o tratamento do HIV/SIDA
A falta de recursos financeiros para o tratamento do HIV/SIDA em países africanos é uma realidade que o Fundo Global, inciativa público-privada, busca combater.
Neste fim de semana, uma conferência internacional de doadores, na qual participaram o cantor Bono, o empresário Bill Gates e vários líderes políticos, definiu o objetivo de angariar 13 mil milhões de dólares para a erradicação até 2030 da SIDA, tuberculose e Malária.
Nos últimos 10 anos, o Fundo Global terá ajudado a salvar 22 milhões de pessoas e a prevenir 300 milhões de infeções nos últimos dez anos. Até hoje, já se investiu cerca de 30 mil milhões de dólares em programas de luta contra as três doenças mortais em todo o mundo, com a maior fatia a ser gasta em África.