Moçambique: Docentes criticam banalização do ensino
6 de junho de 2022"A banalização do ensino, sobretudo, no primeiro e segundo ciclos, é inaceitável, num contexto em que o país se encontra exposto a vários desafios trazidos pela globalização e pela era das tecnologias de informação e comunicação", refere esta segunda-feira (06.06) uma nota daquela organização.
Para os docentes universitários, é igualmente inconcebível que numa época em que o mundo se movimenta rapidamente para uma formação cada vez mais digitalizada, Moçambique continue a imprimir manuais com erros que concorrem para a deformação da formação.
"O recente escândalo desperta-nos para a necessidade de, como nação, iniciarmos um debate com vista à construção de uma visão coletiva sobre a educação, que não se pode mais adiar", lê-se no comunicado.
O debate, prossegue, deve informar a tomada de decisão para a implementação de reformas profundas que permitam uma educação que, efetivamente, responda aos desafios que o mundo atual impõe.
Responsabilização
A organização defende a responsabilização dos eventuais culpados pelos erros detetados nos manuais escolares, elogiando o facto de a ministra da Educação e Desenvolvimento Humano, Carmelita Namashulua, ter anunciado na semana passada a retirada dos livros escolares encontrados com erros.
"É certo que a substituição dos livros acarreta custos, a curto prazo, na medida em que será necessário despender valores monetários na correção dos conteúdos, revisão, impressão, transporte e distribuição dos livros revistos. Todavia, o custo, a longo prazo, de manutenção destes livros, com todos erros que apresentam, seria incalculável para o futuro do país", enfatiza a Liga dos Docentes Universitários de Moçambique.
Na última sexta-feira, o Fórum da Sociedade Civil para os Direitos da Criança (ROSC) exigiu a responsabilização dos eventuais culpados pelos erros detetados em manuais escolares em Moçambique, defendendo uma auditoria independente à produção de livros escolares no país.
"O Governo deve usar o relatório produzido pela comissão independente de auditoria para responsabilizar, coletiva e individualmente, os que direta ou indiretamente não evitaram que os livros fossem editados com os erros identificados ao longo da cadeia de produção dos livros escolares", refere um comunicado do ROSC enviado à Lusa.
As autoridades devem ainda fazer uma comunicação pública para partilhar os resultados da auditoria sobre o livro escolar e as medidas tomadas no âmbito da responsabilização dos culpados "por estas gravosas falhas com dimensão nacional e que prejudicam várias gerações de alunos".
Livros retirados das escolas
Já na quinta-feira, a ministra da Educação e Desenvolvimento Humano de Moçambique disse que o livro de Ciências Sociais da 6.ª classe será retirado das escolas, devido a erros "inaceitáveis e inadmissíveis" detetados nos manuais.
Namashulua anunciou ainda a suspensão do diretor do Instituto Nacional de Desenvolvimento da Educação (INDE), entidade estatal responsável pela direção do processo de produção dos livros, a dissolução da Comissão de Avaliação do Livro Escolar (CALE) e a sua substituição por uma outra estrutura.
Entre os erros mais gritantes detetados no livro do 6.º ano está a localização geográfica de Moçambique, que no livro é situado na África Oriental e não consta como país da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), entidade em cuja fundação participou.
Uma outra anomalia considerada grave é a localização de antigas fronteiras do Zimbabué, país que faz fronteira com Moçambique, mas que o livro indica ser banhado pelo Mar Vermelho. Os equívocos incluem ainda a ilustração de uma foto do Parlamento angolano como sendo de Moçambique.
Na sequência dos erros, está em curso um inquérito aberto pelo Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano.