Moçambique: Dois anos de Ossufo Momade no comando da RENAMO
17 de janeiro de 2021Ossufo Momade é um antigo guerrilheiro da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição no país. Em 1974, foi incorporado nas Forças Populares de Libertação de Moçambique (FPLM), depois dos acordos de Lusaka, em Nampula. Em 1978, ingressou nas fileiras da RENAMO. Em 1983, foi promovido a major-general e, em 1992, a tenente-general.
Em 1999, foi eleito deputado da Assembleia da República, função que desempenha até hoje. Anos mais tarde, em 2007, foi eleito secretário-geral da RENAMO, função que desempenhou até 2013. Depois disso, foi nomeado chefe do Departamento de Defesa e Segurança da RENAMO.
Com a morte do líder histórico do partido, Afonso Dhlakama, em 2018, Momade assumiu interinamente o comando do partido e, a 17 de janeiro de 2019, foi oficializado presidente da RENAMO no congresso do partido. Entretanto, críticos do atual líder do maior partido da oposição dizem que Ossufo Momade não tem o carisma necessário para unificar aquela formação política.
"Erro de casting"
Em entrevista à DW África em novembro passado, o analista moçambicano Lourenço do Rosário diz que a escolha de Momade como sucesso de Afonso Dhlakama foi um "erro de casting" e afundou o partido numa crise profunda.
"Ossufo Momade não era carismático de modo a poder dominar, como dominava Afonso Dhlkama, a ala militar e a ala política", afirmou.
"Por aquilo que eu conheço do discurso de Afonso Dhlakama, por aquilo que eu conheço do pouco contato que tive com Mariano Nhongo, por aquilo que eu conheço de alguns líderes que não estão nas matas, mas que contestam a liderança de Ossufo Momade, não se trata de um líder que consiga neste momento, congregar uma unanimidade dentro da RENAMO", acrescentou Lourenço do Rosário.
Acordo de paz
A 6 de agosto de 2019, Ossufo Momade protagonizou a assinatura do acordo de paz definitiva e reconciliação nacional com o Governo moçambicano. O ato marcou o fim da instabilidade política e militar que o país viveu entre 2014 e 2016, com a recusa da RENAMO em reconhecer os resultados das últimas eleições gerais.
"Todos nós somos chamados a praticar atos que protejam estes valores tão importantes para a manutenção da união entre os moçambicanos", afirmou Momade na altura.
O acordo também previu o processo de desmilitarização, desarmamento e reintegração (DDR) de membros do braço armado do partido, ainda em andamento. Entretanto, a autoproclamada "Junta Militar" da RENAMO, liderada por Mariano Nhongo, considerou nulo acordo de paz e acusou Ossufo Momade de estar a serviço da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o partido no poder.
O braço armado do partido recusa entregar as armas e as tentativas de trégua e de diálogo com o Governo não têm obtido sucesso. Em dezembro, numa tentativa de unificação da RENAMO na Zambézia, o líder do partido da oposição apelou aos jovens para não se envolverem nos ataques armados conduzidos pela "Junta Militar" no centro do país.
"Meus amigos jovens, o país enfrenta conflitos armados em Cabo Delgado e nas províncias de Manica e Sofala que têm criado destruições independentemente das motivações", disse.
"Nós, a RENAMO, repudiamos esses atos bárbaros, porque nada justifica o assassinato de cidadãos civis e indefesos. Apelamos aos nossos jovens a não aderir esses atos que colocam em causa a vida do nosso povo", acrescentou.