Novos ataques no norte de Moçambique
16 de janeiro de 2018Palma e Nangade, na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, são os novos alvos de ataques armados de homens desconhecidos. Cinco mortos e cerca de onze feridos é o balanço dos ataques realizados no domingo (14.01.) no distrito de Palma. Além disso, vandalizaram cerca de sessenta casas, queimaram algumas barracas e atacaram edifícios do Estado. Já no distrito de Nangade, um assalto a um centro de saúde, nesta segunda-feira (15.01.) resultou em dois mortos, uma das vítimas é médico. Os atacantes vandalizaram o posto de saúde, queimaram alguns bens e roubaram medicamentos. Sobre as proporções que o caso está a tomar, a DW África entrevistou o analista e docente de geopolítica no ISRI, Instituto de Relações Internacionais em Moçambique, Paulo Wache.
DW África: Achava aceitável, que volvidos mais de três meses desde o primeiro ataque na província, que a Polícia não tenha esclarecido quem são os atacantes?
Paulo Wache: Eu penso que deve estar a ser feito um exercício, de facto, de forma a esclarecer de forma cabal, mas é preciso dizer que há outros fenómenos adjacentes a este que aconteceram mesmo antes de outubro, que aconteceu, por exemplo, em Niassa, o ataque à esquadra, que foi prontamente esclarecido porque era um caso local, era um caso isolado.
Estes casos são sempre difíceis de explicar, presumo que provavelmente haja muita dificuldade de identificar os atores, justamente porque não há, provavelmente, elementos suficientes para que a polícia se pronuncie. Não tendo esses elementos suficientes, eu penso que é por isso que não se pronuncia, para não criar pânico desnecessário, a ponto de ficarmos numa situação de insegurança. Eu penso que o elemento central aqui é identificar quem são os autores, identificar as razões, identificar a ideologia, se existe alguma ideologia por detrás, todos esses elementos. E provavelmente, levam um pouco mais de tempo para esclarecer.
Eu penso que também deve haver um certo oportunismo de grupos, e isso também pode estar a dificultar essa identificação, de grupos que se percebendo este primeiro ataque, também repliquem estas abordagens para usufruto individual, em forma de pequenos grupos deslocalizados e descomandados. Não acredito que seja uma coisa organizada por um grupo permanente, que tenha uma liderança coerente para, de facto, efetuar os ataques que realizam, mas há motivações momentâneas, olhando para as oportunidades. Eu penso que até agora se trata de crimes que se replicam por imitação, talvez porque, até agora, não estão a ser sancionados aqueles que deveriam ser sancionados.
DW África: Então a soberania do país ainda não está em risco?
PW: Não. O que eu penso é o seguinte: os níveis de segurança são vários. Eu vou aqui identificar dois dos principais: o principal nível de segurança, nós podemos ver agora, é o nível de segurança pública, que lida com o crime. Quer dizer, o Governo moçambicano não está a lidar com inimigos. Por outras palavras, quando se envolve o exército, é quando estamos diante de uma abordagem contra o inimigo, e é aí onde entra o nível de segurança do Estado. Se a segurança do Estado é ameaçada, quem responde à ameaça de segurança do Estado são as forças armadas. Neste momento, o Governo considera estes fenómenos como fenómenos criminosos, como perturbadores da ordem pública. Porque se for encarado como ameaça à segurança do Estado, a força envolvida não será a polícia, serão as forças armadas e as forças de inteligência do Estado.
DW África: Para os governantes moçambicanos, Palma representa o futuro da economia do país. Atingir este alvo faz com que estes ataques passem a ser tratados de uma outra maneira?
PW: Penso que Palma deve ser [tratado] a par de Moçambique todo. Enquanto que na capital também ocorrem crimes, raptos e outros fenómenos que aconteceram, também em Palma podem acontecem fenómenos. Obviamente que a nossa atenção, como moçambicanos e da comunidade internacional, é muito maior porque Palma está a tornar-se a retina para os moçambicanos. Mas, quanto maior for a retina, maior parte de crimes ocorrerão lá. E nem toda a gente que acorre a um espaço é gente bem intencionada. Não penso que se deva encarar como uma ameaça à soberania do Estado, mas tem que se encarar como um pólo de desenvolvimento cuja segurança deve ser prioridade. A segurança que havia em Palma entes de ser um pólo de atração de investimento, e a segurança que tem que haver depois de Palma ser pólo de atração de investimento deve ser diferente em termos de qualidade e de quantidade. Então, eu penso que é isso que tem de acontecer, e não um alarme do estilo de uma guerra civil ou grupos rebeldes, como se pode querer perceber. O que temos pequenos de criminosos, por enquanto, na minha perceção, e que querem apoderar-se de alguns bens dos indivíduos e criar um certo pânico.