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Mediação internacional do caso madgermanes é a solução?

27 de fevereiro de 2019

Diálogo no caso madgermanes continua a ser a aposta, defende Adelino Massuvira. Mas o método de luta depois de décadas não surte efeito. O moçambicano residente na Alemanha reconhece e fala em mudança de discurso e mais.

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Madgermanes é como são chamados os moçambicanos que trabalharam na ex-RDAFoto: DW/A. Cascais

De 22 a 24 de fevereiro a cidade de Magdeburg, aqui na Alemanha, acolheu um evento que marcou os 40 anos da chegada dos moçambicanos a ex-República Democrática da Alemanha (RDA) para estudar e trabalhar. Este programa foi o resultado de um acordo entre a então República Popular de Moçambique e a ex-RDA assinado em 1979.

Cerca de 20.000 jovens recomeçaram a vida, fizeram planos e no final viram quase tudo ir por água abaixo quando regressaram a pátria. No plano do trabalho não chegaram receber as suas reformas e outras compensações, resultado de anos de trabalho.

Sobre o destino dado ao dinheiro descontado na folha do salário ninguém sabe bem até hoje, passados cerca de três décadas de reivindicações por parte dos chamados madgermanes.

Em Magdeburg, a DW África conversou com Adelino Massuvira, um moçambicano do mesmo grupo e um dos organizadores do evento:

DW África: Percebe-se uma grande animosidade nos madgermanes e nas associações que os representam na luta pelo pagamento das reformas e outras compensações trabalhistas. Isso não prejudica a luta?

Adelino Massuvira (AM): Não, penso que a animosidade é um direito... A nossa emoção é que nos faz humanos, porque sem emoções seríamos como pedras, mas como estamos a lidar com pessoas é preciso que esse sentimento seja expresso. É verdade que temos de tomar cautela porque ao invés de estarmos a ganhar as pessoas de boa fé que nos querem ajudar podemos afugentá-las se nos zangarmos a todo o momento.

Mediação internacional do caso madgermanes é a solução?

DW África: A questão das reformas e compensações são um ponto nevrálgico. Entretanto não há solução, apesar de tantos anos de luta, tanto do lado moçambicano como do lado alemão. Não é altura de passarem para uma mediação ou arbitragem internacional?

AM: É verdade que a priori não queremos optar por esses meios, por isso há reivindicações a este nível, tanto que é uma luta duradoira de quase trinta anos. Mas de princípio temos de tentar por nós, caso não haja nenhuma perceção, nenhum entendimento das partes intervenientes, dos governos alemão e moçambicano, e que por sinal o partido que fez com que se assinassem esses acordos ainda está no poder, é preciso primeiro tentar aproximá-los.

DW África: Entretanto as autoridades alemãs e moçambicanas estão a "fugir com o rabo a seringa", como se diz. Isso dificulta a resolução desse processo?

AM: Sim, é verdade. E quem está a fugir é porque algo está a temer. E isso é que faz com que nós estejamos ainda resistentes quanto a esse processo, não só querer saber do que estão a fugir, queremos a verdade e transparência. Eles assinaram os acordos e eles aplicaram dessa forma, usando jovens como moeda de troca e somos pessoas, seres humanos. Por isso mesmo é que nos aproximamos de pessoas de boa fé, instâncias religiosas e da sociedade civil

DW África: Não acha que é altura de mudar o método de luta? Há décadas que não têm resultados...

DDR Gastarbeiter aus Mosambik
Trabalhadores moçambicanos numa fábrica da ex-RDA em 1983Foto: Imago/U. Hässler

AM: É verdade que alguns oradores apresentaram algumas opções, queremos mudar e acrescentar a esta luta um outro processo e outro discurso. Por exemplo, um irmão disse que há 30 anos estão parados e isso não nos ajudou em nada. Por isso mesmo temos de ser proativos quando desenhamos algum projeto. Estão a organizar-se em associações mais para dar a entender as instituições governamentais, que estão fugitivas, que afinal de contas há meios financeiros que saem de um lado para o outro. Então, pensamos que esses novos projetos e forma de pensar possam alertar os dois governos, quem sabe talvez o Governo [alemão] talvez possa financiar.

DW África: Dos milhares de madgermanes que regressaram há alguns exemplos de sucesso. Como podemos qualificar essa disparidade, entre os bem sucedidos e os que não conseguiram coisas boas na vida?

AM: É verdade, vamos falar de um pouco de sorte, mas também é preciso dizer que eles são dos que logo ao princípio entenderam o que se estava a passar e não ficaram parados. Tenho um amigo que quando regressou foi a escola prosseguir com os estudos porque a formação adquirida na Alemanha já não era reconhecida. Hoje é professor, alguns são assessores nos gabinetes provinciais da agricultura... Infelizmente a maior parte dos nossos irmãos não teve a mesma atenção...

Mosambik Friedliche Demonstration
Às quartas-feiras os madgermanes marcham a reivindicar os seus direitosFoto: Ismael Miquidade

DW África: Acha que houve uma espécie de cruzar de braços de boa parte dos madgermanes? Depositaram grandes expetativas nas mãos do Governo?

AM: Não vou chamar cruzar de braços, foi primeiro uma deceção...

DW África: ...Que dura até hoje?

AM: É por essa razão que estamos a ter outro discurso, embora um pouco tarde. Mas mais vale um pouco tarde do que nunca e nesse contexto estou esperançoso que algo possa ter efeito.

DW África: E acha que os seus compatriotas estão preparados para essa mudança que se anseia e necessária para que se possa trazer um resultados concretos?

AM: Não será uma mudança brusca, será gradual, passo a passo. Se por acaso este pensamento de alguns fizer sucesso vai atrair os que ainda estão céticos.

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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