Moçambique: "O assunto Nhongo não é da RENAMO"
16 de janeiro de 2020Em Moçambique, o líder da "Junta Militar", Mariano Nhongo, continua a dar que falar. É que, no centro do país, os ataques armados contra a população a seu mando tornam-se cada vez mais regulares. O que tem feito a sua "casa", a RENAMO, para silenciar as armas deste suposto desertor? Nada. Foi o que ficámos a saber ao longo de uma entrevista com o presidente do maior partido da oposição, Ossufo Momade.
DW África: No seu partido, há quem defenda que o Sr. Ossufo Momade se aproxime de Mariano Nhongo para pôr fim à crise dentro da RENAMO e assim trazer também a paz para o país. Pretende avançar com isso?
Ossufo Momade (OM): Se alguém pensa nisso está enganado, na medida em que Nhongo não tem nenhum princípio, ele não representa nada dentro do nosso partido. É um desertor, uma pessoa sem palavra. A cada dia que passa diz uma coisa diferente do que disse no passado. Por isso, eu nunca me iria preocupar com alguém que vai para a via pública destruir carros e matar a população alegando que [o faz] porque não concorda com o Ossufo. Não concordar comigo não é atacar viaturas, não é prometer coisas que inviabilizam o crescimento de Moçambique. Se ele tem problemas com o Ossufo, a sua obrigação é vir para dentro do partido manifestar a sua inquietação. Aí eu estaria disponível.
DW África: Nem em nome do bem-estar do povo moçambicano e da coesão no seu partido, o senhor daria a mão à palmatória e se aproximaria?...
OM: Quem está contra o Ossufo não vai à via pública [atacar]. A RENAMO é um partido e tem os seus órgãos. Ele nunca deve ir contra a população. O que tem a população a ver com Ossufo Momade? Esse é um comportamento negativo. Ele já não está a atacar Ossufo, mas sim o Estado moçambicano, porque se estivesse contra o Ossufo viria para dentro do partido.
DW África: Há quem suspeite que a autoproclamada "Junta Militar" seja uma criação da própria RENAMO para inviabilizar a governação da FRELIMO. Para si, é uma desconfiança que vai para além da realidade? É um exagero essa teoria?
OM: Não posso fazer nenhum comentário em relação a isso, porque tenho a consciência de que o Nhongo não tem capacidade de fazer uma leitura do que é governação. O que ele está a fazer [é movido] pelo sentimento.
DW África: E de quem será então a responsabilidade de pôr termo aos ataques feitos pela "Junta Militar"?
OM: É o próprio Nhongo. Nós já assinámos o Acordo de Paz e Reconciliação, a paz está firme. Estou à espera que os [nossos homens] sejam desmobilizados e enquadrados e nós estamos a colaborar para isso. Agora, se alguém vem atacar em nome da RENAMO enquanto não aceita as orientações da RENAMO e enquanto o estado-maior general [do partido] não lhe dá nenhum plano de atividade, esse não é da RENAMO. E nós não conhecemos a localização do Sr. Nhongo, ele nunca fala connosco. Agora, como é que alguém vai dizer que é da responsabilidade da RENAMO ou do Ossufo? Nós não podemos assumir uma coisa que não é nossa.
DW África: Que acesso tem o Sr. Nhongo às armas da RENAMO?
OM: Não tem nenhum acesso às armas da RENAMO. Ele é que tem de dizer onde foi buscar [as armas] que tem.
DW África: O seu partido dá sinais de algum descalabro por causa da fragmentação que vive. Quando vão resolver este assunto definitivamente?
OM: Qual assunto? O assunto Nhongo não é da RENAMO. Essa é uma interpretação errada, porque quem deserta da sua base e vai criar grupo lá fora... isso aconteceu na FRELIMO - Uria Simango, Lázaro Kavandame e Joana Simião não foram considerados desertores, fugistas?... Então, porque esse Nhongo continua a ser considerado da RENAMO?