Moçambique: rapto preocupa pessoas com albinismo no Niassa
15 de fevereiro de 2017Quatro indivíduos desconhecidos arrombaram a porta de casa enquanto a família estava a dormir e levaram um rapaz de sete anos de idade, com albinismo. Foi a 31 de janeiro. Até agora, não há sinal nem dos raptores, nem da criança.
A polícia está a investigar o caso. "Neste momento, esforços estão sendo feitos no sentido de resgatar o menor", garante o porta-voz da corporação na província, Alves Mate.
As autoridades ainda não esclareceram todas as circunstâncias deste rapto. No entanto, esta não é a primeira vez em que pessoas com albinismo são sequestradas na província. Os raptos estão relacionados com superstições, que atribuem poderes mágicos a partes do corpo dessas pessoas. Muitas acabam por ser mortas ou mutiladas.
"De mãos atadas"
O delegado provincial da Associação de Pessoas com Albinismo diz que a situação é mais crítica nas zonas rurais. Trindade Guilherme lamenta estar de mãos atadas. "Cá na cidade de Lichinga já se deu duas vezes. Uma das vezes até culminou com a morte do jovem raptado. É muito sentimental para nós. Não sei o que podemos fazer para poder ultrapassar esta situação", afirma.
Em Moçambique, há leis que protegem as pessoas com albinismo. Mas, muitas vezes, as autoridades não conseguem apanhar os raptores. Por um lado, há poucas denúncias; por outro, faltam meios à polícia.
Leis mais duras
A província moçambicana do Niassa fica paredes meias com a Tanzânia, um país tido como o principal mercado do tráfico de pessoas com albinismo. Isso implica vários desafios para as autoridades moçambicanas, diz Trindade Guilherme. "Parece-me que a Tanzânia já conseguiu neutralizar [o tráfico], porque a Constituição da República tanzaniana prevê a pena de morte e eles usam-na rigorosamente e conseguiram reduzir", considera o delegado provincial, acrescentando, no entanto, que "é mentira dizer que esse problema está ultrapassado, pois ele é mesmo difícil ultrapassar".
Para fazer frente à situação, Guilherme pede leis mais duras e que elas sejam cumpridas. "Nós albinos, residentes cá na província do Niassa e em Moçambique, no geral, pedimos ao Governo que, pelo menos, tente criar uma lei que possa defender-nos para podermos circular livremente em todo o território nacional".