Moçambique: O que levou à demissão do ministro do Interior?
10 de novembro de 2021Os raptos na região metropolitana de Maputo podem ter precipitado a queda do ministro do Interior, Amade Miquidade, consideram analistas.
O cenário de criminalidade em Moçambique no geral não baixou, a corrupção na polícia acentuou-se, o que propicia a organização do crime de raptos.
Empresários e médicos de origem asiática têm sido os alvo preferenciais dos sequestradores. O pesquisador do Centro de Integridade Pública (CIP) Borges Nhamire não tem dúvidas de que "a questão dos raptos está a crescer em Moçambique e agora com muitas evidências de que são os membros da polícia envolvidos nos raptos".
"Acho que esta questão dos raptos é muito central, vem de há muito tempo e sedimentou-se muito com o Presidente Nyusi no poder e continua a perseguir e agora até temos médicos", sublinha.
Acidentes rodoviários?
Já o jurista Job Fazenda é da opinião de que a exoneração do ministro Miquidade pode também estar associada à insegurança rodoviária, com os inúmeros acidentes mortais que se registam nas estradas moçambicanas.
"Em princípio, quem deve garantir a segurança na estrada é o Ministério do Interior. Quem deve garantir que as normas referentes à gestão da rodovia, etc, é o Ministério dos Transporte, é evidente, mas como estamos no campo das hipóteses pode estar associado a esta exoneração", comenta.
Falando ao canal privado STV, parceiro da DW, o pesquisador do CIP Borges Nhamire entende que o desempenho do ministro Miquidade não foi de todo mau e que o espelho da segurança nacional é o comandante-geral e não o ministro.
"O ministro é uma pessoa que mostra uma maturidade", afirma o investigador. "Eu era uma das pessoas que não concordava que o conflito de Cabo Delgado fosse liderado pela policia, porque eu penso que é assunto da defesa. Mesmo assim, é um ministro que dava consistência entendia-se o que o ministro estava a falar", considera.
Bernardino Rafael será o próximo?
Borges Nhamire acredita que o homem que se segue no Ministério do Interior pode ser o próprio comandante-geral da polícia, Bernardino Rafael, visto ter muitos poderes e ser muito próximo do Presidente Nyusi.
"Tanto o Presidente Nyusi como o próprio comandante são de uma outra geração mais nova que o ministro do Interior, então, não pode ser difícil de trabalhar com essa gente que já fez muito por este país e conhece muitos corredores. E sabe-se que o ministro Miquidade vem desde os tempos do Presidente Samora Machel", entende o pesquisador.
O Presidente Filipe Nyusi exonerou igualmente Adelaide Amurane do cargo de ministra da Presidência para Assuntos da Casa Civil.