Moçambique: Os desafios diários das pessoas com albinismo
13 de junho de 2022A discriminação de pessoas com albinismo continua a ser uma realidade diária em Moçambique. Milton Mujovo, vice-presidente da Associação Amor à Vida, que presta auxílio às pessoas com albinismo em Moçambique, culpa a falta de acesso à informação.
"Muitas das pessoas não percebem porque é que existem pessoas com albinismo. Em Moçambique, uma grande parte da população ainda é analfabeta. Então, há grandes dificuldades de compreensão disso. No interior do país, muitas destas pessoas não têm acesso aos média. É importante que se chegue até lá."
Para além da discriminação social, as pessoas com albinismo enfrentam outros desafios diários, incluindo a falta de capacidade financeirapara comprar protetores solares e óculos graduados.
Hugo Firmino, jornalista moçambicano com albinismo, critica a falta de apoio monetário às pessoas com albinismo.
"São poucas as pessoas que conseguem dinheiro para comprar um creme protetor solar. Estamos a falar de um país com um salário mínimo de 4.500 meticais [cerca de 68 euros]. E uma pessoa com albinismo precisa de 1,5 litros do creme protetor solar. Estamos a falar de duas botijas com 750 mililitros cada uma, para uso diário, para um período de 30 dias. E estas botijas custam, cada uma delas, o valor mínimo de 1000 meticais [15 euros]."
O jornalista acrescenta que a falta de recursos financeiros para comprar óculos graduados leva muitos jovens albinos a largar a escola.
"A criança começa a ter problemas de leitura ou de escrita e, porque o professor não percebe porque é que a criança não vê, até porque a própria criança também não fala, a conclusão a que se chega é que tem problemas para assimilar a matéria. Quando não é isso, ela só não vê!."
Superstições associadas ao albinismo
Há várias ideias erradas associadas ao albinismo. Há quem acredite que as pessoas com albinismo foram amaldiçoadas, que manter relações sexuais com uma delas cura o vírus da SIDA, que tocar na mão de pessoas com albinismo dá azar ou que os seus ossos dão sorte.
Milton Mujovo, da Associação Amor à Vida, alerta que as crenças, muito populares em Moçambique, são contraditórias: "Se por um lado, os albinos são consideradas pessoas que dão azar, por outro lado também são consideradas pessoas cujos seus membros podem dar sorte."
Hugo Firmino diz que estas superstições "dificultam a procura de emprego e provocam medo aos albinos, que veem a sua vida constantemente ameaçada".
O jornalista relembra um episódio de discriminação que viveu quando era criança e que o "marcou até aos dias de hoje".
"As pessoas que brincavam comigo não podiam bater-me, naquelas brincadeiras, porque [acreditavam que] poderiam ter um filho albino. Ou se me batessem tinham que abrir a camisa, cuspir no peito e fechar a camisa para evitar terem um filho albino."
Apesar de, em 2008, as pessoas com albinismo terem sido consideradas pelas Nações Unidas como "portadoras de deficiência", devido às suas dificuldades de visão, Milton Mujovo diz que ainda não são tratadas dessa forma do ponto de vista político e social. "Em termos de discurso existe essa intenção de as considerar como pessoas com deficiência. Falta mesmo é tornar isto prática."
A associação Amor à Vida estima que vivam em Moçambique entre 20 mil e 30 mil pessoas com albinismo, muitas a precisar de assistência médica. Só este ano foram assassinadas três pessoas com albinismo no país.