Moçambique: Parlamento debate Conta Geral de 2014
30 de junho de 2016A Conta Geral do Estado de Moçambique referente ao ano de 2014 aponta uma evolução dos indicadores de desempenho da economia face aos resultados apresentados em anos anteriores, com o aumento das receitas face às despesas e uma redução da dependência do Orçamento do Estado.
Apesar destes indicadores, o Tribunal Administrativo recomenda ao Governo moçambicano a intensificação de ações de supervisão e monitoria às instituições públicas, através do estabelecimento de mecanismos para melhorar o processo de programação e gestão das receitas próprias e consignadas e o reforço do controlo interno, entre outras medidas.
Durante o debate, a bancada da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o principal partido da oposição, criticou o facto de, durante as auditorias feitas pelo Tribunal Admnistrativo a diversas instituições, não terem sido entregues ao auditor comprovativos de despesas realizadas em diversos componentes do orçamento.
Questionando-se acerca do paradeiro desse dinheiro, a RENAMO aproveitou ainda para referir, citanto o relatório do Tribunal Administrativo, que, no exercício de 2014, foram feitas emissões de bilhetes do tesouro sem cobertura legal.
Samo Gudo, deputado da RENAMO, lamentou também que o relatório não faça qualquer menção aos empréstimos avalizados pelo anterior Governo a favor das empresas Proíndicus e Moçambique Asset Management, em 2013 e 2014. “Pelo facto de o Governo ter ocultado essas dívidas, elas não constam da Conta Geral do Estado de 2014, o que a torna irreal, por não conter a totalidade das operações financeiras”, afirmou o deputado durante o debate.
Fernando Bismarque, porta-voz do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), partido pertencente à oposição, afirmou que “nesta Conta Geral do Estado de 2014 deveria constar a engenharia financeira que esteve em volta da constituição da Proíndicus, Moçambique Asset Management e da EMATUM, elementos estruturantes da quase bancarrota em que nos encontramos hoje mergulhados como país”, relembrando ainda a execução de 122 contratos sem o visto do Tribunal Admnistrativo.
Moçambique adota novos mecanismos de fiscalização
Recorde-se que os empréstimos feitos a estas três empresas moçambicanas, durante os anos de 2013 e 2014, levaram ao cancelamento da ajuda externa proposta pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e à suspensão de apoios monetários externos feitos a Moçambique. A descoberta destas dívidas, em abril deste ano, fizeram a dívida pública disparar para 73,4% do Produto Interno Bruto (PIB) moçambicano.
Com vista a avaliar o impacto macroeconómico da dívida pública, na sequência dos empréstimos não revelados, uma missão do FMI esteve no país, entre 16 e 24 de junho.
O primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do Rosário, informou os parlamentares nesta quinta-feira (30.06) que após a visita e “face à atual conjuntura económica nacional e internacional, o Governo acordou com o FMI um conjunto de medidas combinadas fiscais e monetárias para melhorar a situação económica de Moçambique”. O objetivo do FMI é reforçar a transparência, a boa governação e a responsabilização na economia moçambicana. No entanto, Agostinho do Rosário não adiantou pormenores sobre as medidas acordadas.
Durante a sua intervenção, o ministro da Economia e das Finanças, Adriano Maleiane, afirmou que “neste momento, com a operacionalização do Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE), qualquer desvio de dinheiro em tempo real, nós saberemos em pouco tempo. Podemos carregar num simples botão e saber quem foi, quem é que movimentou”, uma das medidas para melhorar o controlo financeiro interno.
A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) foi o único partidoa pronunciar-se a favor da apreciação positiva da Conta Geral do Estado de 2014. Cernilde Muchanga, deputada da FRELIMO, afirma que “a presente conta tem mérito, é oportuna e não está ferida de qualquer vício constitucional”.
A Conta Geral do Estado 2014 vai a votos em forma de resolução em data ainda a anunciar.