Polícia diz que não houve intenção de matar Manuel de Araújo
6 de fevereiro de 2020Não houve nenhuma intenção de matar o edil de Quelimane, Manuel de Araújo, como alegam os membros da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição em Moçambique. Foi o que garantiu esta quinta-feira (06.02) à DW o porta-voz do comando provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM) na Zambézia.
Sidner Lonzo também nega que a polícia tenha disparado balas reais durante uma passeata pacífica na segunda-feira passada (03.02), alusiva ao Dia dos Heróis Moçambicanos, liderada pelo autarca da oposição.
"A polícia em nenhum lugar disparou balas reais. Disparar bala real num contexto atual e democrático em que Moçambique se insere seria uma falha grosseira que nós e nenhum membro da Polícia da República de Moçambique iria cometer, principalmente, porque nós temos meios necessários para fazer face a qualquer motim", disse.
"Não se usou de forma alguma e em momento nenhum armas de fogo para dispersar a multidão e muito menos para alvejar mortalmente quem quer que seja", sublinhou Sidner Lonzo.
O episódio, que envolveu Manuel de Araújo e os seus apoiantes, a maioria membros da RENAMO, ocorreu em plena Avenida Julius Nyerere, no bairro Coalane, em Quelimane, depois dos discursos na Praça dos Heróis alusivos às cerimónias do 3 de fevereiro.
Testemunhas dizem que a polícia teria disparado balas reais e atirado gás lacrimogéneo. As balas reais atingiram os pneus da viatura protocolar do edil. Na altura, o edil não se encontrava dentro da viatura, mas sim no meio do grupo de apoiantes.
"Foi uma ameaça"
Numa entrevista à DW depois do ataque, o edil disse não ter dúvidas de que se tratou de uma ameaça. O delegado da RENAMO em Quelimane, Latifo Charifo, também considera que a intenção da polícia era assassinar Manuel de Araújo.
"Quando se dispara balas reais e furam pneus do nosso cabeça-de-lista ou do nosso presidente, qual era a intenção real? Não basta as pessoas escreverem no papel paz efectiva e definitiva. Primeiro, é preciso reconciliar as nossas mentes. Dispararam duas balas e furaram os pneus do nosso edil de Quelimane para ver uma passeata", sublinhou Latifo Charifo.
"Quem autoriza é o município e nós estávamos diante de um presidente do município. Não podemos ser tratados como enteados, somos filhos desta pátria e pagamos também impostos. Cumprimos com as nossas obrigações", acrescentou o delegado da RENAMO em Quelimane.
Repressão
Não é primeira vez que a polícia reprime marchas de apoiantes da RENAMO em Quelimane. Antes das eleições e durante a campanha eleitoral, a polícia e manifestantes do maior partido da oposição até tinham boas relações e as caravanas eram escoltadas sem problemas, mas agora que o processo eleitoral terminou, o ambiente é de "caça as bruxas".
"Nós já trabalhamos no passado com a polícia, mas ultimamente não sei o que está a acontecer e o que é que pretendem. A polícia sempre nos acompanhou. Essa ordem vem de onde? Não consigo entender", diz o delegado do partido, Latifo Charifo.
Segundo a RENAMO, um número não especificado de apoiantes sofreu ferimentos durante a marcha, por causa do pânico causado pelos disparos, e outros ficaram intoxicados com o gás lacrimogéneo.