Moçambique: Ponte Maputo-Katembe já é uma realidade
10 de novembro de 2018A maior ponte suspensa de África parte da zona mais a ocidente da capital Maputo, na praça 16 de Junho, vulgo Nwakakana, serpenteando até à região da Katembe, do outro lado da baía de Maputo.
Depois de vários atrasos, a infraestrutura foi, este sábado (10.11), inaugurada pelo presidente moçambicano Filipe Nyusi. Na ocasião, o chefe de Estado considerou que a construção, financiada pela China, contribuirá para a dinamização da economia do país.
A ponte, cujo nome oficial é Maputo-Katembe, foi construída debaixo de fortes críticas provenientes de alguns círculos sociais e políticos, por causa dos valores envolvidos e da sua pertinência. Mas a verdade é que, recorrendo ao ferryboat, os automobilistas precisavam de, no mínimo, quatro horas para atravessar de Maputo para a Katembe, contando com o tempo de espera no cais. Agora, o mesmo trajeto, através da ponte, demora apenas cinco minutos.
Além disso, a travessia pelo ferryboat era quase dois euros mais cara - os automóveis ligeiros pagavam cerca de quatro euros para fazer a travessia. Com a ponte, pagarão cerca de dois euros.
Portagens: a discórdia
A gestão das quatro portagens inseridas na esteira da construção da circular de Maputo e na ponte será feita pela Maputo-Sul, entidade ligada ao governo. A mesma empresa que ficará igualmente encarregue de fazer a manutenção, não só da ponte, mas também da estrada circular, numa extensão de 187 quilómetros. Para isso, recorrerá à cobrança de uma taxa através de portagens.
Depois de percorrer a ponte, o presidente da República, Filipe Nyusi apelou por isso "ao Ministério das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, através dos profissionais da construção civil nacionais, para que procurem observar com rigor os processos de manutenção".
No ato de inauguração da ponte Maputo-Katembe, realizado este sábado (10.11), a empresa Maputo-Sul confirmou o valor das taxas a serem pagas na travessia e que estarão subdivididas em quatro classes. Variam de um mínimo de dois euros a cerca de 20 euros.
Valores que, admite o governo, poderão ter um impacto negativo no bolso dos principais utilizadores da ponte, sobretudo os residentes da Katembe.
Descontos para utilizadores frequentes
Por isso, o executivo admitiu introduzir taxas bonificadas, com descontos de 75 por cento para os maiores utilizadores da ponte, nomeadamente, transportes semicoletivos, tratores com e sem trela e autocarros de passageiros. Sendo assim, o preço mínimo com descontos deverá cair para o equivalente a 0,50 cêntimos de euro. O mais caro nesta classe será o equivalente a 1,70 cêntimos, refere a Maputo-Sul.
No entanto, os moradores da Katembe que usam o ferryboat não estão satisfeitos com as taxas a serem pagas na portagem. Consideram-nas altas para quem vai fazer movimentos pendulares. No entanto, e de acordo com a Maputo-Sul, também os cidadãos que fizerem viagens frequentes, por exemplo, os trabalhadores da cidade de Maputo, "deverão pagar o equivalente a 1,5 cêntimos de euros por travessia".
Silva Magaia não tem dúvidas sobre as vantagens que a infra-estrutura vai trazer. "Esta ponte vai mudar completamente a forma de estar na travessia entre Maputo e Katembe", afirmou.
"Há que rever as taxas"
O setor privado reclama a sua intervenção na manutenção, tanto deste projeto da circular de Maputo, como em outras pontes ou viadutos. O presidente da Confederação das Associações Económicas, Agostinho Vuma, lembrou que durante a construção da ponte Maputo-Katembe existiam acordos que não permitiam que Moçambique interviesse como pretendia devido à envergadura da obra. No entanto, concluída a obra, Agostinho Vuma entende que "é chegada a hora de serem os moçambicanos a fazer a sua gestão. Temos capacidade local para fazer uma gestão correta. Este é o momento de envolver os moçambicanos e explorar as concessões das portagens mas também da estrada", disse.
O empresariado nacional também reconheceu que as taxas a serem pagas nas portagens são altas. Para Agostinho Vuma, "o setor dos transportes vai ser o primeiro a ressentir-se e vai transferir esse problema para o cidadão comum. Há que rever as taxas para que estes custos não passem para o cidadão", concluiu.
"Símbolo de unidade nacional”
Em declarações aos jornalistas, depois de inaugurar a obra no acesso do lado de Maputo, Filipe Nyusi evocou os três presidentes moçambicanos que o antecederam. Realçou que o empreendimento fazia parte dos sonhos de Samora Machel, primeiro chefe de Estado, e de Joaquim Chissano, que lhe sucedeu, e que foi "posto em andamento por Armando Guebuza".
A ponte Maputo-Katembe é inaugurada numa altura em que Moçambique atravessa uma grave crise financeira. Nesse sentido, o chefe de Estado explicou que a "decisão de continuar com a ponte teve por base o princípio de que, em situações como essas, o nosso senso de prioridade deve ser o mais apurado".
Filipe Nyusi lembrou também o facto de a ponte Maputo-Katembe e respetivas estradas fazerem parte da ambição africana de ligar por via rodoviária a capital do Egito, Cairo, e a Cidade do Cabo, na África do Sul, extremo oposto do continente. "A ponte é um símbolo da unidade nacional e da superação de adversidades e das nossas diferenças", acrescentou.