População em fuga após disparos junto à vila de Macomia
25 de março de 2022"Desde as 18:00 houve disparos e fomos todos dormir nas matas", relatou esta manhã à Lusa um habitante a partir de um esconderijo, numa altura em que ainda não há informação oficial sobre a situação.
A fuga da população foi justificada com os receios de insurgentes armados poderem voltar a entrar na vila e sede de distrito, tal como aconteceu em 2020, apesar de atualmente haver tropas a guarnecer a área.
A mesma fonte referiu que os tiros começaram a ser ouvidos a partir da zona onde está a base das forças armadas moçambicanas e da SAMIM, tropas dos países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
A população de Macomia teme que se torne igualmente arriscado aceder aos campos de cultivo em redor da vila.
Receios de insegurança na vila
Outra fonte, ligada às milícias locais, disse estar em casa a preparar uma mala com roupa para rumar a Pemba, capital provincial, devido aos renovados receios de insegurança na vila.
Antes de o conflito alastrar, Macomia era um dos principais entrepostos comerciais e de transportes da província, por se situar a meio da única estrada pavimentada a ligar o norte e o sul de Cabo Delgado, a estrada nacional 380.
A sede de distrito fica a cerca de 200 quilómetros a sul de Palma e Mocímboa da Praia, zona dos projetos de gás, reconquistada com o apoio de forças ruandesas em julho de 2021.
Suspeita-se que os grupos rebeldes em fuga da ofensiva militar sejam responsáveis pelo ataques que têm acontecido noutros pontos de Cabo Delgado.
Combates na ilha de Matemo
Antes dos disparos desta noite, as tropas moçambicanas combateram grupos armados que na última semana invadiram a ilha de Matemo.
Noutro ponto da região, no extremo norte, junto à fronteira com a Tanzânia, aldeias do distrito de Nangade têm sido alvo de incursões de insurgentes desde fevereiro.
As autoridades moçambicanas têm pedido apoios à comunidade internacional para financiar o esforço militar em Cabo Delgado, considerando que apesar das melhorias no controlo da região nos últimos oito meses, o combate contra as forças insurgentes ainda não está ganho.
O conflito já causou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 859 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.