Moçambique: Preconceito contribui para a pobreza em Tete
13 de dezembro de 2022Nas escolas da província moçambicana de Tete, faltam professores e materiais didáticos para crianças com necessidades educativas especiais. O alerta é da Associação dos Cegos e Amblíopes de Moçambique na província. A ACAMO diz que a falta de oportunidades tem contribuído para o aumento da pobreza.
Leandro Pacanate, de 23 anos, é deficiente visual desde que nasceu. Tentou ir à escola, mas sentiu-se excluído. Faltavam professores especializados para o acompanhar e material adequado - livros em Braille, por exemplo.
Leandro diz que queria ser radialista, mas viu-se obrigado a colocar o sonho de lado.
"Se tivéssemos uma oportunidade, acho que tudo daria certo. Até tentei falar com pessoas que dão aulas nessas escolas normais para me enquadrarem, mas por falta de professores que dão Braille, torna-se difícil eu entrar numa escola."
O jovem está desempregado e depende financeiramente da sua mãe, que vive de pequenos negócios.
A situação de Leandro e de muitos outros jovens com deficiência acaba por ser como uma bola de neve, cada vez maior e mais difícil de travar.
Situação de pobreza
Sem escola nem igualdade de oportunidades, aumenta o risco de desemprego, vulnerabilidade e pobreza. Basílio Gimo, representante da Associação dos Cegos e Amblíopes de Moçambique (ACAMO) na província do Tete, diz que, entre os seus 886 membros, só uma minoria conseguiu frequentar a escola e tem um trabalho sustentável.
A maior parte depende de outras pessoas e está em situação de pobreza. Alguns veem-se obrigados a pedir esmola nas ruas. É por isso que Basílio Gimo insiste – tudo começa na escola.
"Se não haver um professor formado no sistema Braille, dificilmente se pode atender a esse tipo de pessoa, porque nós escrevemos e lemos pelas mãos."
Ensino especial
Para fazer face a esta situação, o Governo criou três centros - no norte, centro e sul de Moçambique - paraajudar menores com necessidades educativas especiais.
Na região centro foi aberto em 2013 o Centro Regional de Ensino Inclusivo (CREI). Um dos objetivos era formar professores qualificados para ensinar este grupo de alunos, mas a ideia não avançou, porque terão faltado condições.
O diretor do CREI, Fernando da Costa Xavier, diz que, atualmente, o centro acolhe com bastante dificuldade crianças portadoras de diferentes deficiências oriundas das províncias da Zambézia, Sofala, Manica e Tete. Mas a falta de condições para menores com problemas visuais continua a ser um "calcanhar de Aquiles".
"As crianças com problemas visuais trabalham com máquinas de Braille e, em relação a este aspeto, no âmbito pedagógico, temos sentido muita necessidade, porque as máquinas são poucas e as crianças têm constantemente de as partilhar, para trabalhar", reconheceu.
Mesmo assim, o centro é uma ajuda importante, acrescenta o responsável.
"Aqui a nível do CREI a desistência é quase nula, mas nas escolas na zona centro a desistência é maior. Aliás, as crianças nem se vão matricular."
Por outro lado, o delegado provincial do Fórum das Associações Moçambicanas de Pessoas com Deficiência (FAMOD), Albano Galo, alerta para o problema da discriminação social, que persiste.
"O Estado deve fazer um esforço para recolher essas pessoas, colocá-las num centro de acomodação e criar condições para essas pessoas, porque são pobres. Estão à procura porque não têm, se pedem esmola é porque, onde estão a dormir, o alojamento não é confortável, se pedem esmola é porque estão a vestir mal", apelou.