Presidente da CIMO destaca mensagem de paz do Papa
4 de setembro de 2019A Comunidade Islâmica de Moçambique (CIMO) é uma associação religiosa que está presente em todo o território moçambicano. Promove um trabalho de apoio às comunidades locais, seja através da educação, do desporto ou da solidariedade. A DW África falou com o presidente da CIMO, Abdul Rashid, para perceber como é que os muçulmanos vêm a visita do Papa a Moçambique nos dias 4, 5 e 6 de setembro.
DW África: Como é que a comunidade muçulmana vê a visita do Papa Francisco a Moçambique?
Abdul Rashid (AR): A Comunidade Islâmica de Moçambique, CIMO, não responde a essa e as outras perguntas como representante dos muçulmanos em Moçambique, mas como uma instituição islâmica de Moçambique como tantas outras, a nossa opinião não é vinculativa. A CIMO vê a visita do Papa com normalidade, tendo em conta que o Papa é o chefe do Estado do Vaticano e é também nessa qualidade que efetua essa visita. O Papa é o exponente máximo da Igreja Católica e os fiéis cristãos sentem-se naturalmente lisonjeados porque ao fim de 30 anos um Papa volta a visitar o país e estará numa aproximação e convivência com os seus correligionários de Moçambique. Não posso falar em nome de todos os muçulmanos, falo em nome da nossa instituição, que representa uma vasta maioria dos muçulmanos.
DW África: O que é que esta visita pode trazer para a comunidade?
AR: Nós aqui em Moçambique não temos problemas inter-religiosos, temos uma aproximação muito boa, uma convivência, isso vem só fortificar a nossa relação com a Igreja Católica e por aí fora. É uma mais-valia para a nossa união e relação inter-religiosa. Moçambique tem muitas carências e não podemos privilegiar uns deixando os outros [de lado]. Certamente a visita do Papa não vai só, por si, transformar a forma de viver dos moçambicanos, lógico que vai ser muito difícil isso. Muito se falou sobre a paz e a reconciliação e finalmente a paz foi recentemente alcançada, em que o presidente da RENAMO e o Presidente de Moçambique assinaram um acordo, que vai garantir não só o estabelecimento da paz, mas também como os mecanismos para a sua manutenção. Agora nessa altura em que os acordos forma assinados e estamos na altura da paz. A visita do Papa é muita bem-vinda, é lógico e tenho a certeza que o Papa vai proferir alguma recomendação aos moçambicanos em geral, não só para os cristãos, mas para todos os moçambicanos, sobre a paz. Vai dar-nos o seu aval e o seu parecer para que essa paz seja solidificada, porque a Igreja Católica também esteve presente no primeiro acordo de paz em Roma. Espero que o Papa venha contribuir para isso.
DW África: A mensagem e o discurso agradam aos muçulmanos moçambicanos?
AR: Nós não temos nada contra a mensagem do Papa, agrada-nos plenamente. Como sabe o Islão é uma religião que não tem uma estrutura hierarquizada como a Igreja Católica tem. Os ensinamentos do Papa têm para os muçulmanos uma importância relativa, embora sejam apreciados os discursos sobre a paz no mundo, sobre solidariedade para com os refugiados, para com os povos subjugados. Mas essas mensagens, nós apreciamos profundamente quando se fala da paz, da reconciliação, da solidariedade, da fraternidade, acolher os refugiados. Isso, de facto, encoraja muito e gostamos de ouvi-lo e sempre são bem-vindas para nós, porque não temos nada em seu abono. O Papa é um líder de uma religião e como muçulmanos temos como obrigação respeitar os líderes e professantes de qualquer outra religião, seja qual for. São muito bem-vindos os conselhos do Papa porque leva-nos para o mesmo objetivo, que é a paz.
Esta vai ser terceira visita do Papa ao continente africano. Em 2015 visitou o Quénia, o Uganda e Republica Centro-Africana. Em 2017 visitou o Egipto. Nesta sua terceira visita escala Moçambique, Madagáscar e Maurícias.