Moçambique: Prioridade agora é evitar eclosão de doenças
25 de março de 2019"É importante termos consciência de que vamos ter cólera, malária. Já temos filária e vai haver diarreias. O trabalho está a ser feito para mitigar" os surtos, disse este fim de semana o ministro da Terra e Ambiente de Moçambique, Celso Correia, em conferência de imprensa no centro de operações de socorro instalado no aeroporto da Beira.
As águas estagnadas na zona afetada pelo ciclone Idai e pelas cheias no centro de Moçambique deverão potenciar a propagação de doenças. Por isso, a estratégia das autoridades inclui a instalação de centros de tratamento - habitualmente instalados em zonas de surto para conter e tratar doentes - e distribuição de equipas médicas por todo o território afetado.
"Já conseguimos distribuir médicos e unidades para fazer vigilância" em vários locais, beneficiando da melhoria das condições meteorológicas e da descida das águas", disse o governante.
O mais recente balanço do ciclone Idai feito pelas autoridades moçambicanas aponta para 446 vítimas mortais. Há também 259 mortes no Zimbabué e 56 no Malawi.
O número de pessoas afetadas em Moçambique subiu também para 531 mil. "Este total de pessoas afetadas não significa que estejam em risco de vida. São pessoas que perderam as casas" ou que estão "em zonas isoladas e que precisam de assistência", explicou Celso Correia.
Reaberta estrada para a Beira
Mais de uma semana após a passagem do ciclone Idai, Celso Correia anunciou a reabertura da estrada nacional 6, a principal estrada de acesso à cidade da Beira. "A grande vitória foi colocar a EN6 a funcionar. Nós já estávamos com grandes desafios de assistência, mas a abertura da EN6 permite-nos dar assistência via terrestre em maior quantidade", disse o ministro da Terra e Ambiente.
Uma das vantagens já visíveis é a redução dos preços na cidade da Beira. Aos poucos a cidade começa a ter de volta os seus serviços mínimos. Há já zonas com acesso a água potável e nas quais a eletricidade foi reestabelecida.
90 mil alunos sem aulas
A passagem do ciclone Idai comprometeu também o sistema de educação havendo, neste momento, pelo menos 90 mil alunos que não estão a frequentar as aulas. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) considera que se está numa "corrida contra o tempo" para ajudar e proteger as cerca de um milhão de crianças afetadas pelo ciclone.
Henrietta Forre, da UNICEF, disse aos jornalistas, em Maputo, que a situação é grave: "Muitas das crianças que vimos tinham sido separadas dos pais durante a noite e ainda não os tinham encontrado. Estamos a tentar localizar os pais mas muitos não aparecem. E o facto de isso acontecer, faz-nos temer o pior. Precisamos de orfanatos e outros a ajudar as crianças."
Também durante o fim de semana, Sebastian Rhodes Stampa, da ONU, voltou a frisar que "não há governo nesta região ou no mundo que possa responder sozinho neste tipo de circunstâncias, por isso viemos apoiar. Estou a trabalhar com o ministro, estamos totalmente integrados com o governo. O objetivo é chegar a todas as pessoas que precisam de ajuda. Temos já um grande número de ativos no país e mais estão a chegar."