Moçambique: Professores em greve por falta de salários
9 de dezembro de 2017Professores de vários subsistemas do ensino na província moçambicana de Tete estão em greve há cerca de duas semanas, reivindicando o pagamento dos salários e subsídios das horas extraordinárias referentes aos anos de 2016 e 2017.
Afirmam que não vão entregar as cadernetas de notas antes de receberem os seus ordenados em dívida. A Direção Provincial de Educação e Desenvolvimento Humano naquela região confirma a dívida e pede mais "calma" aos docentes.
Docentes da escola secundária de Tete ouvidos pela DW África disseram que todas as comunicações legais foram efetuadas junto das autoridades competentes, de modo a receberem os seus salários e subsídios em atraso. Mas esgotaram-se as negociações sem que se alcançasse um resultado que agradasse os docentes.
Falando em condição de anonimato, um docente da Escola Secundária de Tete garantiu que não vai entregar as cadernetas de notas aos sector pedagógico como forma de reivindicar o dinheiro em falta.
Questionado sobre a resposta da Direcção Provincial da Educação e Desenvolvimento Humano, o mesmo professor esclareceu: "só dizem que temos que aguardar, que estão a resolver o assunto e que brevemente será pago o dinheiro em dívida. Mas nunca mais chega o dia do pagamento".
Um outro professor, que também pediu para não ser revelada a sua identidade, apontou o dedo: "Existe dinheiro para pagar aos professores. Mas parece que ao nível da Direção Provincial [de Educação e Desenvolvimento Humano] não nos querem pagar. Estão sem vontade de fazê-lo. Mas nós iremos exigir a todas vias para recebermos o dinheiro", garantiu o docente .
Queixas na universidade
A greve dos professores na província de Tete não está a afetar apenas o ensino secundário, mas também no ensino superior. Os docentes da Universidade Zambeze (UniZambeze) estão em protesto desde 27 de novembro. Não deram exames aos estudantes
durante dois dias e só o fizeram depois das negociações com a direcção da universidade.
Um docente da UniZambeze, que também pediu anonimato por temer represálias, queixa-se de salários em atraso. "Há cinco meses que não sei o que é salário. Tenho dívidas nas lojas onde compro comida e não tenho como pagar. Mudei de casa duas vezes por não conseguir pagar a renda. Combinámos entre todos os docentes em não entregar as notas de frequência dos estudantes no setor pedagógico. A direção prometeu pagar até no fim do mês de janeiro, mas não tenho a certeza se o farão. Sempre justificam que vão pagar e nunca pagam", queixa-se o professor.
Uma estudante de um curso pós-laboral na Unizambeze, na província de Tete, disse à DW África que não fez exames durante dois dias, na semana passada, porque os docentes estavam em greve. Interromperam para controlar exames, mas depois voltaram à greve.
"Não sabíamos o que fazer. Fomos manifestar-nos em frente à direção no dia 29 de novembro, pedindo uma explicação. Prometeram que tudo já estava resolvido, mas esta semana ficamos surpresos quando os docentes não quiseram divulgar as notas alegando que ainda não haviam recebido os seus salários. Estamos a pedir socorro porque mensalmente pagamos propinas", lembra o estudante.
Autoridades prometem pagar
O sindicato provincial dos professores já se reuniu com a Direção Provincial da Educação e Desenvolvimento Humano de Tete, de modo a ultrapassar o impasse. Mas não resultou em nenhum acordo positivo.
O diretor-adjunto provincial da Educação e Desenvolvimento Humano em Tete, João Barroso, disse à imprensa que os professores deviam ter mais "paciência" e "calma" porque o assunto está sendo resolvido junto as autoridades competentes para se pagar todas as dívidas que o setor tem juntos dos docentes.
"Os professores não se devem pautar por este tipo de comportamento. Já nos sentámos e fizemos perceber que o assunto dos salários e horas extraordinárias está a ser resolvido o mais rápido possível. Por isso, queremos que eles entreguem as cadernetas nos setores pedagógicos para facilitar o apuramentos das notas de cada aluno. (...) a dívida será paga”, afirmou João Barroso.