Moçambique: Quais os principais desafios de Filipe Nyusi?
29 de outubro de 2019Nas eleições do passado dia 15 de outubro, Filipe Nyusi foi reeleito Presidente de Moçambique por mais cinco anos. Quais são os desafios que se seguem? Para o analista político moçambicano Gustavo Mave, que considera que desafios mais difíceis que os atuais, relacionados com o conflito armado com a RENAMO, foram ultrapassados no mandato anterior.
Em entrevista à DW África, Gustavo Mave nota ainda que, a seu ver, Mariano Nhongo, líder da autoproclamada Junta Militar da RENAMO, não "é um grande problema", colocando no topo da lista de preocupações do Presidente a integração dos homens armados do maior partido da oposição moçambicana nas Forças de Defesa e Segurança (FDS) e os ataques de insurgentes na província de Cabo Delgado, que continuam a ser recorrentes.
DW África: Como irá lidar o Presidente eleito Filipe Nyusi com a integração dos homens armados da RENAMO nas Forças de Defesa e Segurança?
Gustavo Mave (GV): Acho que será menos difícil do que alguns dos desafios que o Presidente Nyusi teve neste mandato. Os piores, se não foram resolvidos, pelo menos foram minimzados. Estou a falar, por exemplo, das escamaruças - para não dizer quase guerra - que existiam quando tomou posse, estavam no seu máximo. O então líder da RENAMO, agora falecido, estava vivo e desafiante. Na altura, ele afirmava que havia "dois Presidentes no país" e [Nyusi] tacitamente e de forma estratégica, conseguiu levá-lo à razão.
DW África: Na sua opinião, Mariano Nhongo constitui uma ameaça?
GV: Marianao Nhongo não me parece ser um grande problema, porque tem mostrado sinais de colaborar com o Governo. Tenho essas indicações, quase documentadas, de que ele não pretende fazer guerra. Ele pretende ser reintegrado como está previsto nos protocolos que o Presidente Nyusi negociou com o falecido presidente [da RENAMO] Afonso Dhlakama. Agora [Filipe] Nyusi tem outros desafios, como é exemplo esse em Cabo Delgado, mas penso que não é igual ao problema que era criado pela RENAMO.
DW África: No que concerne à corrupção, que desafios tem o Governo pela frente?
GV: Essa será certamente uma das coisas que ele vai levar a sério. A verdade é que os que desviaram fundos vão tentar resistir para se protegerem, mas [se a investigação continuar] coordenada, como me parece que está a ser, vão-se aperceber que não valerá a pena, porque só agravará os problemas.
DW África: E em relação ao gás que vai começar a ser vendido em Moçambique?
GV: O Presidente Nyusi tem dito que não se pode pensar que as soluções para o país virão todas da venda do gás, tanto é que a lei moçambicana dá direito às companhias que exploram os hidrocarbonetos e outros recursos minerais [no país] àquilo que eu chamaria "algum tempo de graça", não totalmente, mas, por exemplo, nos primeiros anos, eles darão a Moçambique os seus lucros de 36% para que possam recuperar os seus capitais. É assim que diz a lei.
DW África: Depois temos o fenómeno das alterações climáticas com cheias, secas e ciclones. Acha que o Governo vai conseguir negociar com as Nações Unidas para que haja mais financiamento que permita mitigar os efeitos das catástrofes naturais?
GV: Tenho indicações de que está a haver esse financiamento, não na medida do desejável, mas o ministro Celso Correia tem sido muito feliz nesse aspeto. Tem tido algumas doações decorrentes da política da compra do carbono. Ele tem conseguido alguns milhões de dólares e quero acreditar que, a continuar esta política, com ele ou com outra pessoa, o país poderá, de facto, receber alguma ajuda. Nunca será suficiente, mas penso que esse pouco que será, ou está a ser, libertado, se for bem gerido, vai atenuar o problema.