Moçambique: RENAMO e o VI Congresso das incógnitas
14 de janeiro de 2019O VI Congresso da RENAMO é o congresso. É que há quase dez anos a RENAMO não realizava este tipo de reunião, quando os seus estatutos prevêm a realização de cinco em cinco anos. O V Congresso realizou-se em meados de 2009, em Nampula.
Depois é o primeiro sem a presença do seu famoso líder Afonso Dhlakama, falecido a 3 de maio de 2018, e ainda porque se espera eleger, realmente, pela primeira vez o líder do maior partido da oposição. E tudo isso acontece num ano de eleições gerais que se advinham complexas.
Quem será o líder da RENAMO?
Sobre a escolha do novo líder, entretanto, o analista político Calton Cadeado diz que "é uma incógnita com uma dose de incerteza neste momento, ninguém tem a bola mágica para dizer quem será o líder."
E Cadeado apresenta os seus argumentos: "Há muita inclinação para colocar o Elias Dhlakama na liderança do partido, aparentemente por causa da idade de Ossufo Momade e o pouco prestígio que o secretário-geral tem. Mas como digo, é um incógnita até ao fim porque o próprio Elias Dhlakama não tem grandes simpatias dentro do partido porque durante muito tempo esteve ligado às Forças Armadas e existe uma crítica segundo a qual ele esteve a viver bem durante este tempo todo e nunca se dedicou ao partido."
Mas há quem consiga antever quem poderá ser o provável vencedor. Filipe Baessa é especialista em boa governação e diz: "Creio que os candidatos que se apresentam mais fortes entre os três, com chances, primeiro é o coordenador da RENAMO [Ossufo Momade], depois o irmão do ex-presidente Afonso Dhlakama, o Elias. Não creio que o terceiro candidato, que inicialmente era muito forte, tenha grandes chances, sobretudo por causa do desempenho político dele nas últimas eleições [autárquicas] na Cidade da Beira."
E Baessa recorda que "Beira é uma referência para a RENAMO e creio que um dos objetivos de Manuel Bissopo era precisamente impor-se numa cidade como esta para depois aparecer neste congresso mais forte. Mas os resultados não foram de positivos, quedou-se na terceira posição, abaixo inclusive da candidata do partido FRELIMO e isso enfraquece a sua posição neste processo."
Figura de Dhlakama será a arma de todos no VI Congresso
Mas o VI Congresso é o primeiro sem a presença do pai da democracia, como se autodenominava o líder Afonso Dhlakama. Esta figura se confundia muito com o próprio partido e gozava de grande simpatia junto das grandes massas rurais.
Como será viver um momento ímpar destes sem este elemento? Calton Cadeado está certo de que "a ausência de Dhlakama é um elemento forte para estas eleições, primeiro porque todos vão querer usar a sua figura para se fazer eleger, todos vão usar a figura e o legado de Dhlakama como elemento fundamental para sustentar as suas posições."
Mas será igualmente um momento de testar o partido, segundo Cadeado: "Mas a ausência de Dhlakama tem um segundo sentido porque neste momento vamos ver o grau de coesão ou união que o partido tem, porque durante muito tempo Dhlakama foi a figura que se considerou a RENAMO e vice-versa. Sem o Dhlakama vamos ver o que acontece, porque este é um momento eleitoral enquanto não hove momento eleitoral a situação foi jogada na tranquilidade."
União nunca esteve em causa
Numa entrevista à DW África o líder interino do partido, Ossufo Momade, disse que um dos objetivos neste congresso é unir a família RENAMO, embora tenha garantido que a união nunca esteve em causa na sua formação.
Durante a liderança de Dhlakama o partido quase não deu chances para se questionar a sua coesão e união. Mas há outros desafios que se impõem ao partido, sem o seu histórico líder.
E Baessa aponta um: "Ela precisa se reinventar perante uma situação em que o seu principal pilar já não existe. Vai ser difícil encontrar um novo Dhlakama e vai ser difícil manter o modelo de governação que a RENAMO tinha no tempo em que Dhlakama estava vivo. Então tem de se reinventar."
Gorongosa, longe do betão e do alcatrão...
O VI Congresso acontece de 15 a 17 de janeiro na Gorongosa, bastião da RENAMO. É uma região de difícil acesso e com difíceis dificuldades de comunicação por telemóvel. Também o local não tem as condições consideradas convencionais para este tipo de evento. Participam no congresso 700 delegados do partido e cerca de 300 convidados.
Mas há imperativos maiores que as questões de logística, como explicou à DW África o líder interino do partido.
Ossufo Momade justifica que "é um lugar sagrado e é aqui onde o coordenador da comissão política está a residir nos últimos meses. E sabendo que vivemos cá e que neste momento não temos possibilidades de nos deslocarmos para qualquer cidade de Moçambique, porque não há segurança adequada, o conselho nacional deliberou que o congresso fosse realizado na Serra da Gorongosa."